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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Falando sobre Romantismo - Escola Literária...

Olá, pessoal!! 




Tudo bem? Como o nome do blogger é Literatura em Resumo, vou postar sobre literatura hoje. 
Espero que gostem de conhecer um pouco a Escola Literária do Romantismo. 


O romantismo é todo um período cultural, artístico e literário que se inicia na Europa no final do século XVIII, espalhando-se pelo mundo até o final do século XIX.

Os berços do romantismo podem ser considerados três países: Itália, Alemanha e Inglaterra. Porém, na França, o romantismo ganha força como em nenhum outro país.

A linguagem utilizada é muito variável, depende de quem escreve, de uma boa diferenciação entre linguagem escrita e linguagem oral e principalmente do tipo de Romance. E a poesia é mais comunicativa e espontânea do que a neoclássica.

A natureza é bastante expressiva no Romantismo. Os principais temas abordados eram: amores platônicos, acontecimentos históricos nacionais, a morte e seus mistérios.
Com a liberdade criadora implantada no Romantismo, as regras fixas do Classicismo caem.

Algumas obras nacionais romanticas: Senhora ( José de Alencar); Lira dos Vinte Anos (Álvares de Azevedo); A Moreninha ( Joaquim Manuel da Costa); Inocência ( Taunay).

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Setembro Amarelo

Por estarmos no Setembro Amarelo (campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio) gostaria de compartilhar o link do Centro de Valorização de Vida. 

O CVV é uma associação que presta serviço de apoio emocional e prevenção ao suicídio. Se você precisar de ajuda entre no site do CVV, nele você pode entrar em contato, de forma anônima, com voluntários por meio do chat, skype ou email. Ou ainda pode ligar para 141.

''O suicídio não acaba com as chances da vida piorar, o suicídio elimina a possibilidade de ela algum dia melhorar.''. Viver é a melhor opção. Você tem valor!!!

Peço para que quem puder compartilhe essa informação.

http://www.cvv.org.br/quero-conversar.php


Olá, hoje, lendo o livro Por Lugares Incríveis da Jennifer Niven senti a necessidade de falar sobre suicídio e orientar sobre esse site, por isso escrevi esse texto acima. Estou divulgando no blog e em minhas redes sociais. Se você puder, peço que também divulgue. 

Caso esteja precisando de ajuda, procure algum voluntário no site e, caso deseje, pode comentar anonimante aqui no post, com certeza, irei tirar um tempo para ler e te responder. Ficarei feliz em puder te ajudar e saiba que você tem valor e que existem outros meios para terminar com toda dor e sofrimento que sente, conte comigo!


sábado, 17 de setembro de 2016

Carta de Um Diretor


Carta de um diretor de escola para os pais antes da semana de provas:
Prezados Pais,
A semana de provas está para começar. Eu sei que vocês estão esperando que seus filhos se saiam bem.
Mas por favor, lembrem-se de que, dentre os estudantes que estão sentados ali para fazer a prova, há um artista, que não precisa entender de matemática.
Há um empreendedor, que não se importa com história ou literatura.
Há um músico, cujas notas em química não importam.
Há um esportista, cujo preparo físico é mais importante do que a física... assim como a escolaridade.
Se seu filho obtiver as melhores notas, ótimo! Mas se não, por favor, não tire dele ou dela sua autoconfiança e sua dignidade.
Diga-lhes que tudo bem! É só uma prova. Eles foram talhados para coisas muito mais importantes na vida.
Diga-lhes que, independentemente de sua nota, você os ama e não os julga.
Façam isso, por favor. E quando fizer, veja-os conquistarem o mundo. Uma prova ou uma nota baixa não vai lhes tirar os próprios sonhos ou seu talento.
E, por favor, não pense que médicos ou engenheiros ou advogados são as únicas pessoas felizes no mundo.

Com carinho,
A diretoria.

Vi esse texto circulando no Facebook e achei interessantíssimo. Por isso, resolvi compartilhar aqui no blog. Realmente, por diversas vezes, a escola não avalia ''corretamente'' os alunos e isso acaba sendo frustante para vários desses. Muitas vezes, vemos a inteligência como sinônimo de boas notas, desvalorizando outras habilidades que refletem a inteligência de alguém. A vida é importante demais para se prender a critérios tão restritos. Espero que um dia  tenhamos uma escola que não apenas nos ''sufoca'' com várias matérias e foquem, principalmente, em vestibulares, mas escolas que foquem também nas artes, esportes e,especialmente, na formação de bons cidadãos e humanos. 

Beijos e até a próxima! 

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Fábula - O Leão e o Ratinho


Caía a tarde na selva. E ao longe pelos caminhos, ouvia-se a passarada que regressava a seus ninhos. Na beira de uma lagoa, os sapos em profusão, cantavam bem ritmados, a sua velha canção. No mais, tudo era silêncio. 

No entanto, nesse momento, surgiu um velho leão, à procura de alimento. Andava orgulhosamente, com passos lentos, pesados. E por onde ele passava, os bichos apavorados, fugiam para suas tocas, deixando livre o caminho. 

Porém, eis que de repente, surgiu um pobre ratinho. O leão não perdeu tempo e assim estendendo a pata, alcançou o pobrezinho que corria pela mata.

- Vejam só, que sorte a minha! Abocanhei-te seu moço. Tu não és lá muito grande, mas já serve para o almoço! 

- Tenha piedade senhor! - Oh, solte-me por favor! Do que lhe serve matar-me! Pois veja bem, se me come, eu sou tão pequenininho, que mal posso matar-lhe a fome.

- Pensando bem, tens razão! Eu vou soltar-te ratinho. O que ia fazer contigo, assim pequeno, magrinho. Segue em paz o teu passeio. Não vês, sou teu amigo, para mim de nada serves, quase não pode contigo!

- Seu Leão, esse favor, eu jamais esquecerei. Se puder, algum dia, ainda lhe pagarei.

- Oh! - Pagar-me? Ora! Tu mal aguenta contigo! O que poderias fazer a meu favor, pobre amigo!

- Não sei, não sei majestade, mas prometo-lhe outra vez, algum dia, hei de pagar-lhe, o grande bem que me fez!

E assim dizendo, o ratinho correu e muito feliz entrou no seu buraquinho. E o leão tranquilamente, embrenhou-se na floresta.

Entretanto, de repente, o pobre animal, caiu na rede de um caçador. E a fera se debatendo de raiva e pavor, urrava! E quanto mais se esforçava, mais a corda o enlaçava. Nesse instante, o tal ratinho, que de longe tudo ouvia, chegou perto do leão, que urrando se debatia. 

- Não se aflija meu amigo, aqui estou para salvá-lo. Espere. Fique tranquilo, pois vou tentar libertá-lo. Deixe-me roer a corda que o prendeu... assim...assim... não se mexa por favor, descanse e confie em mim. 

E o ratinho foi roendo, roendo insistentemente, até que a corda cedeu e arrebentou finalmente! 

- Pronto, estou livre afinal! - Muito obrigado ratinho. O que seria de mim sem tua ajuda, amiguinho!

E o ratinho humildemente, cheio de satisfação, estendeu sua patinha ao grande e velho leão!

- Amigo, não me agradeça, entretanto aprenda bem, não faça pouco dos fracos, confie neles também!

terça-feira, 3 de maio de 2016

Missa do Galo - Machado de Assis (Conto Integral)

Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite. 
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranqüilo, naquela casa assobradada da rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.
Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.
Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em Mangaratiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver "a missa do galo na Corte". A família recolheu-se à hora do costume; eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a terceira ficava em casa.
- Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? perguntou-me a mãe de Conceição.
- Leio, D. Inácia.
Tinha comigo um romance, os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D’Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de Conceição.
- Ainda não foi? Perguntou ela.
- Não fui; parece que ainda não é meia-noite.
- Que paciência!
Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da a1cova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na cintura. Sendo magra, tinha um ar de visão romântica, não disparatada com o meu livro de aventuras. Fechei o livro; ela foi sentar-se na cadeira que ficava defronte de mim, perto do canapé. Como eu lhe perguntasse se a havia acordado, sem querer, fazendo barulho, respondeu com presteza:

- Não! qual! Acordei por acordar.
Fitei-a um pouco e duvidei da afirmativa. Os olhos não eram de pessoa que acabasse de dormir; pareciam não ter ainda pegado no sono. Essa observação, porém, que valeria alguma coisa em outro espírito, depressa a botei fora, sem advertir que talvez não dormisse justamente por minha causa, e mentisse para me não afligir ou aborrecer. Já disse que ela era boa, muito boa.
- Mas a hora já há de estar próxima, disse eu.
- Que paciência a sua de esperar acordado, enquanto o vizinho dorme! E esperar sozinho! Não tem medo de almas do outro mundo? Eu cuidei que se assustasse quando me viu.
- Quando ouvi os passos estranhei; mas a senhora apareceu logo.
- Que é que estava lendo? Não diga, já sei, é o romance dos Mosqueteiros.
- Justamente: é muito bonito.
- Gosta de romances?
- Gosto.
- Já leu a Moreninha?
- Do Dr. Macedo? Tenho lá em Mangaratiba.
- Eu gosto muito de romances, mas leio pouco, por falta de tempo. Que romances é que você tem lido?
Comecei a dizer-lhe os nomes de alguns. Conceição ouvia-me com a cabeça reclinada no espaldar, enfiando os olhos por entre as pálpebras meio-cerradas, sem os tirar de mim. De vez em quando passava a língua pelos beiços, para umedecê-los. Quando acabei de falar, não me disse nada; ficamos assim alguns segundos. Em seguida, vi-a endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem desviar de mim os grandes olhos espertos.
- Talvez esteja aborrecida, pensei eu.
E logo alto:
- D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu...
- Não, não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio; são onze e meia. Tem tempo. Você, perdendo a noite, é capaz de não dormir de dia?
- Já tenho feito isso.
- Eu, não; perdendo uma noite, no outro dia estou que não posso, e, meia hora que seja, hei de passar pelo sono. Mas também estou ficando velha.
- Que velha o quê, D. Conceição?
Tal foi o calor da minha palavra que a fez sorrir. De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranqüilas; agora, porém, ergueu-se rapidamente, passou para o outro lado da sala e deu alguns passos, entre a janela da rua e a porta do gabinete do marido. Assim, com o desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão singular. Magra embora, tinha não sei que balanço no andar, como quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me pareceu tão distinta como naquela noite. Parava algumas vezes, examinando um trecho de cortina ou consertando a posição de algum objeto no aparador; afinal deteve-se, ante mim, com a mesa de permeio. Estreito era o círculo das suas idéias; tornou ao espanto de me ver esperar acordado; eu repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca ouvira missa do galo na Corte, e não queria perdê-la.
- É a mesma missa da roça; todas as missas se parecem.
- Acredito; mas aqui há de haver mais luxo e mais gente também. Olhe, a semana santa na Corte é mais bonita que na roça. São João não digo, nem Santo Antônio...
Pouco a pouco, tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas. Não estando abotoadas, as mangas, caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muitos claros, e menos magros do que se poderiam supor. A vista não era nova para mim, posto também não fosse comum; naquele momento, porém, a impressão que tive foi grande. As veias eram tão azuis, que apesar da pouca claridade, podia contá-las do meu lugar. A presença de Conceição espertara-me ainda mais que o livro. Continuei a dizer o que pensava das festas da roça e da cidade, e de outras coisas que me iam vindo à boca. Falava emendando os assuntos, sem saber por quê, variando deles ou tornando aos primeiros, e rindo para fazê-la sorrir e ver-lhe os dentes que luziam de brancos, todos iguaizinhos. Os olhos dela não eram bem negros, mas escuros; o nariz, seco e longo, um tantinho curvo, dava-lhe ao rosto um ar interrogativo. Quando eu alteava um pouco a voz, ela reprimia-me:
- Mais baixo! Mamãe pode acordar.
E não saía daquela posição, que me enchia de gosto, tão perto ficavam as nossas caras. Realmente, não era preciso falar alto para ser ouvido; cochichávamos os dois, eu mais que ela, porque falava mais; ela, às vezes, ficava séria, muito séria, com a testa um pouco franzida. Afinal, cansou; trocou de atitude e de lugar. Deu volta à mesa e veio sentar-se do meu lado, no canapé. Voltei-me, e pude ver, a furto, o bico das chinelas; mas foi só o tempo que ela gastou em sentar-se, o roupão era comprido e cobriu-as logo. Recordo-me que eram pretas. Conceição disse baixinho:
- Mamãe está longe, mas tem o sono muito leve; se acordasse agora, coitada, tão cedo não pegava no sono.
- Eu também sou assim.
- O quê? Perguntou ela inclinando o corpo para ouvir melhor.
Fui sentar-me na cadeira que ficava ao lado do canapé e repeti a palavra. Riu-se da coincidência; também ela tinha o sono leve; éramos três sonos leves.
- Há ocasiões em que sou como mamãe: acordando, custa-me dormir outra vez, rolo na cama, à toa, levanto-me, acendo vela, passeio, torno a deitar-me, e nada.
- Foi o que lhe aconteceu hoje.
- Não, não, atalhou ela.
Não entendi a negativa; ela pode ser que também não a entendesse. Pegou das pontas do cinto e bateu com elas sobre os joelhos, isto é, o joelho direito, porque acabava de cruzar as pernas. Depois referiu uma história de sonhos, e afirmou-me que só tivera um pesadelo, em criança. Quis saber se eu os tinha. A conversa reatou-se assim lentamente, longamente, sem que eu desse pela hora nem pela missa. Quando eu acabava uma narração ou uma explicação, ela inventava outra pergunta ou outra matéria, e eu pegava novamente na palavra. De quando em quando, reprimia-me:
- Mais baixo, mais baixo...
Havia também umas pausas. Duas outras vezes, pareceu-me que a via dormir; mas os olhos, cerrados por um instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela os houvesse fechado para ver melhor. Uma dessas vezes creio que deu por mim embebido na sua pessoa, e lembra-me que os tornou a fechar, não sei se apressada ou vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-me. Uma das que ainda tenho frescas é que, em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima. Estava de pé, os braços cruzados; eu, em respeito a ela, quis levantar-me; não consentiu, pôs uma das mãos no meu ombro, e obrigou-me a estar sentado. Cuidei que ia dizer alguma coisa; mas estremeceu, como se tivesse um arrepio de frio, voltou as costas e foi sentar-se na cadeira, onde me achara lendo. Dali relanceou a vista pelo espelho, que ficava por cima do canapé, falou de duas gravuras que pendiam da parede.
- Estes quadros estão ficando velhos. Já pedi a Chiquinho para comprar outros.
Chiquinho era o marido. Os quadros falavam do principal negócio deste homem. Um representava "Cleópatra"; não me recordo o assunto do outro, mas eram mulheres. Vulgares ambos; naquele tempo não me pareciam feios.
- São bonitos, disse eu.
- Bonitos são; mas estão manchados. E depois francamente, eu preferia duas imagens, duas santas. Estas são mais próprias para sala de rapaz ou de barbeiro.
- De barbeiro? A senhora nunca foi a casa de barbeiro.
- Mas imagino que os fregueses, enquanto esperam, falam de moças e namoros, e naturalmente o dono da casa alegra a vista deles com figuras bonitas. Em casa de família é que não acho próprio. É o que eu penso; mas eu penso muita coisa assim esquisita. Seja o que for, não gosto dos quadros. Eu tenho uma Nossa Senhora da Conceição, minha madrinha, muito bonita; mas é de escultura, não se pode pôr na parede, nem eu quero. Está no meu oratório.
A idéia do oratório trouxe-me a da missa, lembrou-me que podia ser tarde e quis dizê-lo. Penso que cheguei a abrir a boca, mas logo a fechei para ouvir o que ela contava, com doçura, com graça, com tal moleza que trazia preguiça à minha alma e fazia esquecer a missa e a igreja. Falava das suas devoções de menina e moça. Em seguida referia umas anedotas de baile, uns casos de passeio, reminiscências de Paquetá, tudo de mistura, quase sem interrupção. Quando cansou do passado, falou do presente, dos negócios da casa, das canseiras de família, que lhe diziam ser muitas, antes de casar, mas não eram nada. Não me contou, mas eu sabia que casara aos vinte e sete anos.
Já agora não trocava de lugar, como a princípio, e quase não saíra da mesma atitude. Não tinha os grandes olhos compridos, e entrou a olhar à toa para as paredes.
- Precisamos mudar o papel da sala, disse daí a pouco, como se falasse consigo.
Concordei, para dizer alguma coisa, para sair da espécie de sono magnético, ou o que quer que era que me tolhia a língua e os sentidos. Queria e não queria acabar a conversação; fazia esforço para arredar os olhos dela, e arredava-os por um sentimento de respeito; mas a idéia de parecer que era aborrecimento, quando não era, levava-me os olhos outra vez para Conceição. A conversa ia morrendo. Na rua, o silêncio era completo.
Chegamos a ficar por algum tempo, - não posso dizer quanto, - inteiramente calados. O rumor único e escasso, era um roer de camundongo no gabinete, que me acordou daquela espécie de sonolência; quis falar dele, mas não achei modo. Conceição parecia estar devaneando. Subitamente, ouvi uma pancada na janela, do lado de fora, e uma voz que bradava: "Missa do galo! missa do galo!"
- Aí está o companheiro, disse ela levantando-se. Tem graça; você é que ficou de ir acordá-lo, ele é que vem acordar você. Vá, que hão de ser horas; adeus.
- Já serão horas? perguntei.
- Naturalmente.
- Missa do galo! repetiram de fora, batendo.
-Vá, vá, não se faça esperar. A culpa foi minha. Adeus; até amanhã.
E com o mesmo balanço do corpo, Conceição enfiou pelo corredor dentro, pisando mansinho. Saí à rua e achei o vizinho que esperava. Guiamos dali para a igreja. Durante a missa, a figura de Conceição interpôs-se mais de uma vez, entre mim e o padre; fique isto à conta dos meus dezessete anos. Na manhã seguinte, ao almoço, falei da missa do galo e da gente que estava na igreja sem excitar a curiosidade de Conceição. Durante o dia, achei-a como sempre, natural, benigna, sem nada que fizesse lembrar a conversação da véspera. Pelo Ano-Bom fui para Mangaratiba. Quando tornei ao Rio de Janeiro, em março, o escrivão tinha morrido de apoplexia. Conceição morava no Engenho Novo, mas nem a visitei nem a encontrei. Ouvi mais tarde que casara com o escrevente juramentado do marido.


Fonte: Contos Consagrados - Machado de Assis - Coleção Pretígio - Ediouro - s/d.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Baleias não me emocionam - Lya Luft

          Hoje quero falar de gente e bichos. De notícias que freqüentemente aparecem sobre baleias encalhadas e pinguins perdidos em alguma praia. Não sei se me aborrece ou me inquieta ver tantas pessoas acorrendo, torcendo, chorando, porque uma baleia morre encalhada. Mas certamente não me emociona. Sei que não vão me achar muito simpática, mas eu não sou sempre simpática. Aliás, se não gosto de grosseria nem de vulgaridade, também desconfio dos eternos bonzinhos, dos politicamente corretos, dos sempre sorridentes ou gentis. Prefiro o olho no olho, a clareza e a sinceridade – desde que não machuque só pelo prazer de magoar ou por ressentimento. Não gosto de ver bicho sofrendo: sempre curti animais, fui criada com eles. Na casa onde nasci e cresci, tive até uma coruja, chamada, sabe Deus por quê, Sebastião. Era branca, enorme, com aqueles olhos que reviravam. Fugiu da gaiola especialmente construída para ela, quase do tamanho de um pequeno quarto, e por muitos dias eu a procurei no topo das árvores, doída de saudade. Na ilha improvável que havia no mínimo lago do jardim que se estendia atrás da casa, viveu a certa altura da minha infância um casal de veadinhos, dos quais um também fugiu. O outro morreu pouco depois. Segundo o jardineiro, morreu de saudade do fujão – minha primeira visão infantil de um amor romeu-e-julieta. Tive uma gata chamada Adelaide, nome da personagem sofredora de uma novela de rádio que fazia suspirar minha avó, e que meu irmão pequeno matou (a gata), nunca entendi como – uma das primeiras tragédias de que tive conhecimento. 
      De modo que animais fazem parte de minha história, com muitas aventuras, divertimento e alguma tristeza. Mas voltemos às baleias encalhadas: pessoas torcem as mãos, chegam máquinas variadas para içar os bichos, aplicam-se lençóis molhados, abrem-se manchetes em jornais e as televisões mostram tudo em horário nobre. O público, presente ou em casa, acompanha como se fosse alguém da família e, quando o fim chega, é lamentado quase com pêsames e oração. Confesso que não consigo me comover da mesma forma: pouca sensibilidade, uma alma de gelos nórdicos, quem sabe? Mesmo os que não me apreciam, não creiam nisso. Não é que eu ache que sofrimento de animal não valha a pena, a solidariedade, o dinheiro. Mas eu preferia que tudo isso fosse gasto com eles depois de não haver mais crianças enfiando a cara no vidro de meu carro para pedir trocados, adultos famintos dormindo em bancos de praça, famílias morando embaixo de pontes ou adolescentes morrendo drogados nas calçadas. Tenho certeza de que um mendigo morto na beira da praia causaria menos comoção do que uma baleia. Nenhum Greenpeace defensor de seres humanos se moveria. Nenhuma manchete seria estampada. Uma ambulância talvez levasse horas para chegar, o corpo coberto por um jornal, quem sabe uma vela acesa. Curiosidade, rostos virados, um sentimentozinho de culpa, possivelmente irritação: cadê as autoridades, ninguém toma providência? Diante de um morto humano, ou de um candidato a morto na calçada, a gente se protege com uma armadura. De modo que (perdão) vejo sem entusiasmo as campanhas em favor dos animais – pelo menos enquanto se deletarem tão facilmente homens e mulheres.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Preto e Branco - Fernando Sabino

Perdera emprego, chegara a passar fome, sem que ninguém soubesse: por constrangimento afastara-se da roda boêmia que antes costumava frequentar - escritores, jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser seu mais velho companheiro de noitadas.
 De repente, a salvação lhe apareceu na forma de um americano, que lhe oferecia emprego numa agência. Agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade, vale dizer, ao americano, para garantir na sua nova função uma relativa estabilidade. 
E um belo dia vai seguindo com o chefe pela Rua México, já distraídos de seus passados tropeços, mas, tropeçando obstinadamente no inglês com quem se entendiam - quando vê do outro lado da rua um preto agitar a mão para ele. 
Era o sambista seu amigo.
Ocorreu-lhe desde logo que ao americano poderia parecer estranha tal amizade, e mais tarde: incompatível com a ética ianque a ser mantida nas funções que passara a exercer. Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação. Por via das dúvidas, correspondeu ao cumprimento de seu amigo da maneira mais discreta que lhe foi possível, mas viu em pânico que ele atravessa a rua e vinha em sua direção, sorriso aberto e braços prontos para um abraço.
Pensou rapidamente em se esquivar - não dava tempo: o americano também se detivera, vendo o preto aproximar-se. Era seu amigo, velho companheiro, um bom sujeito, dos melhores mesmo que já conhecera – acaso jamais chegara sequer a se lembrar de que se tratava de um preto? Agora, com o gringo ali ao seu lado, todo branco e sardento, é que percebia pela primeira vez: não podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse paciência: mais tarde lhe explicava tudo, haveria de compreender. Passar fome era muito bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do jantar, e sem credores à porta. Não teve mais dúvidas: virou a cara quando o outro se aproximou e fingiu que não o via, que não era com ele.
E não era mesmo com ele.
Porque antes de cumprimentá-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o sambista abriu os braços para acolher o americano - também seu amigo.


SABINO, Fernando. A Mulher do vizinho. 7. ed. Rio de Janeiro, Record, 1962.p.163-4

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A instabilidade das cousas do mundo - Gregório de Matos



Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Barroco - Seus Principais Pintores

Olá, gente!

Hoje venho mostrar algumas pinturas do período do Barroco. Mas para quem não conhece ou não lembra algumas das características do período, irei fazer uma breve introdução sobre ele.

Bem, o Barroco foi uma manifestação artística que representou os conflitos espirituais e culturais do homem do século XVII ( bem e mal - céu e terra - fugaz e eterno - carne e o espírito). Esse período artístico-histórico surgiu após a Contrarreforma e ia de encontro aos padrões renascentistas. É uma arte que apela para a emoção do espectador.

Pintores da arte barroca:

- Caravaggio:

Cresceu na cidade de Caravaggio, nome pelo qual ficou conhecido. Viveu em Milão no seu período de aprendizagem, no qual trabalhava a natureza-morta. Por volta de 1590 foi morar em Roma, onde se dedicou principalmente a pintar a vida de rua.
Fez uso do chiaroscuro (claro-escuro) e rompeu com o hábito de pintar figuras simétricas e planos de fundo. Abaixo, tem-se a obra Crucificação de São Pedro (1601).


- Rubens:

Peter Paul Rubens destacou-se como pintor de cenas bíblicas e mitológicas, foi influenciado por Michelangelo. Rubens rompeu com o estilo dominante até então. Os nus exuberantes, repletos de figuras rechonchudas, são típicas de muitas de suas obras. Abaixo a obra O rapto das filhas de Leocipo (1617). 


- Velázquez:

Nasceu em Servilha e pertencia à pequena nobreza. Em 1624, foi nomeado como pintor da corte. Mostrava em suas obras linhas sutis nos rostos das figuras representadas; retratou a família real espanhola e pintou também peças históricas. Abaixo a obra O triunfo de Baco ( 1628-1629). 

                                  

- Rembrandt: 

Foi influenciado pelo claro-escuro de Caravaggio. Desenvolveu o uso distintivo de luz e escuridão e era fascinado por rostos, como mostra a sua obra abaixo: A lição de anatomia do Dr. Tulp de 1632.



- Vermeer: 

Foi um pintor holandês. Utilizou nas suas obras cenas do cotidiano, pessoas comuns, paisagens e devido a isso suas obras apresentam-se como um retrato da sociedade da época. Ele retratava principalmente as figuras femininas, como a que está pintada na obra abaixo: Moça com brinco de pérola ( 1665). 


Espero que tenham gostado desse post que viajou no período do Barroco e nas suas pinturas. Até breve! Vou deixar aqui no final um vídeo com a análise da obra A Lição de Anatomia do Dr. Tulp.


                                      

terça-feira, 30 de junho de 2015

Trovadorismo - Lírica galego-portuguesa - Ai flores, ai flores do verde pinho.

Olá!!

Hoje eu venho trazer para vocês uma cantiga do período do Trovadorismo do D. Dinis, rei de Portugal por quase meio século, seu reinado foi importante na âmbito da cultura e literatura, além disso em relação às poesias trovadorescas teve papel marcante.

Bem, o trovadorismo é uma manifestação literária do século XII, período da Idade Média. Os trovadores eram de origem nobre e compunham as cantigas, que nesse período eram cantadas com o auxílio de alguns instrumentos e não declamadas. Havia quatro tipos de cantigas: de amor, de amigo, de maldizer e de escárnio. A cantiga de D.Dinis que trouxe aqui é uma cantiga de amigo. 


Ai flores, ai flores do verde pinho,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do qui mi há jurado?
Ai Deus, e u é?

Vós me perguntardes polo voss'amigo,
e eu bem vos digo que é sã'e vivo.
Ai Deus, e u é?

Vós me perguntardes polo voss'amado,
e eu bem vos digo que é viv'e são.
Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é sã'e vivo
e seera vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é viv' e são
e seera vosc'ant'o prazo passado
Ai Deus, e u é?


          D. Dinis (CV 171, CBN 533)

Glossário:
v. 1 ‑ pino: pinheiro.
v. 3 – u é: onde está?
v. 8 ‑ do que pôs comigo: sobre aquilo que combinou comigo.
v. 14 ‑ sano: saudável, são.
v. 20 ‑ seera vosc’ant’o prazo saído: estará convosco antes de terminar o prazo.

Aqui, vou deixar um vídeo dessa cantiga sendo cantada por Helena de Alfonso no seu disco Barahunda: 


quinta-feira, 19 de março de 2015

Presságio - Fernando Pessoa

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

Todas as cartas de amor… - Fernando Pessoa

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

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