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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Tristão e Isolda - Lenda Medieval Celta de Amor

Olá, pessoal!!!

Hoje vim falar de um livro que a muito tempo queria ter lido, mas na correria do dia a dia só consegui ler agora. O livro é Tristão e Isolda. 

A história é baseada numa lenda medieval celta e influenciou bastante escritores na Idade Média. A popularidade e a  circulação dessa história eram tão grandes que ela chegou em nossos dias e inspirou artistas na música, na pintura, no teatro e atingiu também o cinema.
O que pra mim já é incrível e me faz querer ler o livro; não é interessante saber que uma história resistiu a tantos anos?
Não se sabe ao certo quem escreveu e quando a escreveu, além disso os historiadores não sabem afirmar se ela é baseada em fatos. O texto que a gente conhece nos livros foi reconstituído a partir da comparação das versões mais antigas.
''Senhores, agradar-vos-ia conhecer uma bela história de amor [...]? É a história de Tristão e da Rainha Isolda. Ouvi como, alegres e tristes, eles se amaram...'' Página 15 (Martin Claret)

A vida de Tristão foi marcada por desastres, seu pai morreu em batalha e sua mãe durante o seu parto, devido a isso, então, recebeu esse nome. Algum tempo depois de tornar-se orfão, foi viver no reino da Cornualha  sobre os cuidados do Rei Marcos. 
Ao crescer ele se tornou um guerreiro habilidoso e em uma das batalhas que enfrentou, ele se feriu gravemente, mas foi salvo pela rainha Isolda da Irlanda.

Recuperado, ele retorna à Cornualha, onde alguns barões mais próximos do rei sugere que este encontre uma noiva. E então, Tristão lembra-se de Isolda, a Loura, e decide ir à terra dela para a conquistar para o rei. Feito isso, antes de partir para Cornualha, a mãe de Isolda entrega a criada da filha uma poção mágica que esta deve tomar junto com o marido no dia do casamento.
Pois os que tomassem essa poção se apaixonariam perdidamente um pelo outro. Contudo, ao sentirem sede, Tristão e Isolda tomam a poção mágica sem o conhecimento de que aquela bebida tinha tal poder. 



Assim, os dois se apaixonam e se veem lutando contra esse sentimento e amor inalcançável.
Como prometido, Isolda se casa com o Rei Marcos, mas os dois jovens não conseguem conter o sentimento e continuam se encontrando às escondidas. Porém, os mesmos barões que sugeriram ao rei uma esposa, começam a desconfiar do romance dos dois jovens. A partir disso, a história vai ser marcada por idas e vindas. 


O enredo é marcado por amor, culpa, ciúmes, inveja, além disso retrata a realidade da época, caracterizada por reinos que, constantemente, entravam em conflito por busca de terras; o homem que passava a infância sendo treinado para ser um bom guerreiro e ser racional, contendo os sentimentos; além dos casamentos arranjados. 
''Disse então Isolda a Tristão: - Os traidores sabem de  nosso refúgio. Fugi. [...] Mas fugi dessa terra, pela vossa salvação e pela minha. Disse-lhe Tristão: - Mas como poderei viver? - Tende razão, amigo  Tristão, minha vida e a vossa estão entrelaças e tecidas uma na outra. E eu como poderei viver? Meu corpo aqui fica, mas tens convosco o meu coração.'' (página 96/97)

A versão mais atual da história nos filmes é uma versão de 2006. O filme é muito bom e ficou lindo, mas ele não foi fiel ao livro em quase nada. Os dois são bons, mas bastante diferentes. O filme foi totalmente adaptado para agradar ao público, mas vale a pena ver. Pra mim, mesmo sendo tão diferente, é um filme maravilhoso.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Drácula - Bram Stoker

Olá, galera!! Tudo bem?



Drácula é um clássico escrito em 1897, a obra trata da história de um vampiro e de seres que mesmo mortos continuam vivos. Diferentes dos livros e filmes mais atuais, ele não tem um vampiro romantizado. A história, sim, tem romance, mas o vampiro não é alguém que luta contra o próprio mal que ele é capaz de causar (ou que brilha como o Edward de Crepúsculo haha). 

A história foi inspirada na figura do príncipe romeno Vlad Tepes (foto ao lado), o qual defendeu seu território contra o Império Romano no século 15. Ele era conhecido por sua crueldade, pois seus inimigos eram torturados e empalados. Suas praticas foram disseminadas por seus inimigos, o que trouxe inspiração para Bram Stoker. 

Bem, o livro é narrado por meio de diários, jornais e cartas, fazendo com que a leitura se torne bastante fluida, o que a faz leve e instigante. 

O primeiro narrador é Jonathan Harker, um advogado que é contratado pelo conde Drácula para o ajudar a comprar uma casa em Londres, a fim de que lá esse possa se esconder e fazer novas vítimas na cidade. 
Durante o período em que permanece no castelo do conde, Jonathan nota acontecimentos estranhos e hábitos suspeitos do Drácula. Até que ele percebe que está refém dele e que se encontra trancafiado no castelo. 

Algumas das vítimas feitas pelo vampiro são do convívio de Jonanthan; é desse modo que a história de diversas vítimas se cruzam e que elas, juntamente a outros personagens destemidos, vão arriscar a própria vítima para salvar seus amigos e livrar a sociedade de uma criatura tão horripilante. 
Para isso, então, precisam descobrir o segredo do conde, o que ele é e o que ele é capaz de fazer.

O livro é de terror e suspense, mas longe de ser um livro que cause medo em quem o leia. Mas a criatividade do autor para criar algo tão místico e surreal é muito interessante, vale a pena ler a história. E como falei, é uma leitura fácil e corrida, você vai lendo rapidamente e é despertado para saber o desenrolar da história. 

Curiosidade: 

Vou deixar para vocês um link com o Castelo do Drácula em 360º, é incrível! 
Cliquem, aqui !
Obs: Para desejar as boas vindas aos visitantes do castelo, do lado de fora existem duas pessoas empaladas, de mentira, claro rs. Mas achei interessante, quem tiver a curiosidade de ver segue o link da foto: aqui

Espero que tenha gostado. Beijoos!! 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Falando sobre Romantismo - Escola Literária...

Olá, pessoal!! 




Tudo bem? Como o nome do blogger é Literatura em Resumo, vou postar sobre literatura hoje. 
Espero que gostem de conhecer um pouco a Escola Literária do Romantismo. 


O romantismo é todo um período cultural, artístico e literário que se inicia na Europa no final do século XVIII, espalhando-se pelo mundo até o final do século XIX.

Os berços do romantismo podem ser considerados três países: Itália, Alemanha e Inglaterra. Porém, na França, o romantismo ganha força como em nenhum outro país.

A linguagem utilizada é muito variável, depende de quem escreve, de uma boa diferenciação entre linguagem escrita e linguagem oral e principalmente do tipo de Romance. E a poesia é mais comunicativa e espontânea do que a neoclássica.

A natureza é bastante expressiva no Romantismo. Os principais temas abordados eram: amores platônicos, acontecimentos históricos nacionais, a morte e seus mistérios.
Com a liberdade criadora implantada no Romantismo, as regras fixas do Classicismo caem.

Algumas obras nacionais romanticas: Senhora ( José de Alencar); Lira dos Vinte Anos (Álvares de Azevedo); A Moreninha ( Joaquim Manuel da Costa); Inocência ( Taunay).

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Por Lugares Incríveis - Jennifer Niven

Olá, pessoal!! Tudo bem com vocês?



Hoje, trago a resenha de um livro que, com certeza, foi a melhor leitura do ano e que conquistou um lugarzinho no meu coração. 

Por Lugares Incríveis é um livro extremamente emocionante, real, reflexivo e único. Ele conta a vida de dois jovens que, diante de tudo que tem enfrentado, veem a morte como a única maneira de encerrar seu sofrimento. E é deslumbrante o modo como a autora traz um tema desse de uma forma tão real e envolvente.

A história é contada pelos dois personagens, intercalando entre um capítulo e outro. Um deles é Finch, um jovem com um histórico problemático e tido como a ''aberração'' da escola, pois ninguém compreendia sua personalidade, suas atitudes tão inconstantes e incomuns para os demais jovens. Ele sofria com períodos de depressão e possuía uma família desestruturada com pais que não buscavam compreender essa personalidade instável do filho, além de ter um pai bastante violento. Devido a toda essa incompreensão e rotulagem que faziam dele, Finch pensava, constantemente, em suicídio e em como o faria.

A outra personagem é Violet, que, diferente de Finch, era uma jovem com uma vida praticamente perfeita, possuía um grande círculo de amigos, um namorado lindo e era popular. Além disso, dedicava parte de seu tempo escrevendo em uma revista online que administrava juntamente à sua irmã. Porém, sua vida muda completamente após uma acidente de carro que ela sofre com essa irmã, no qual apenas ela sobrevive. Depois disso, ela se sente culpada pelo acidente que levou à morte da irmã, além de acreditar que não é justo ela continuar sua vida, voltar a ter bons momentos, tendo em vista que a sua irmã não terá mais essas oportunidades. 

Toda essa dor, tristeza e falta de esperança fazem com que os dois se encontrem no alto da torre da escola. Quando se veem tão em frente da morte, movidos pelo medo, decidem ajudar um ao outro a sair daquele local. Mas depois desse ''encontro'' na torre, Finch, que não entendia o que poderia levar uma garota como Violet a uma situação daquelas, passa a observá-la e a buscar conhecê-la melhor. 


Quando o professor de geografia passa para a turma um trabalho sobre o estado de Indiana, ele vê nisso a oportunidade de se aproximar realmente de Violet. Juntos, então, conhecerão melhor Indiana e seus lugares incríveis. Além de, aos poucos, despertarem um no outro a vontade de viver, enquanto irão se conhecer melhor.


''Ela é oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio, cálcio e fósforo. Os mesmo elementos que estão dentro de todos nós, mas não consigo parar de pensar que ela é mais que isso e que tem outros elementos dos quais ninguém nunca ouviu falar, que a tornam diferente de todas as outras pessoas.'' - Página 199

Bem, o livro em certos momentos é bem divertido; em outros, bem triste. Em uma certa parte do livro eu chorei, chorei e chorei, até que eu tive que parar a leitura, absorver aquilo tudo e depois continuar. 
Porque por mais que se saiba que aqueles personagens não existem, aquela situação é real, o suicídio é real.
E é doloroso saber que, muitas vezes, o bullying e falta de compreensão com os outros fazem com que isso seja rotineiro hoje em dia.  E a escola é, realmente, um espaço de segregação muitas vezes. Em que aqueles que agem fora do nosso padrão são tachados e rotulados. 
Por isso, para mim, foi tão incrível descobrir quem o Finch era por trás de toda aquele conceito formado sobre ele. Eu me apeguei demais com os personagens, principalmente com ele por ser tão espontâneo e divertido.
Eu n-u-n-c-a vou esquecer esse livro.

Além disso, Por Lugares Incríveis é fantástico por mostrar um pouco como uma pessoa que pensa em cometer o suicídio se sente e porque opta por isso. É comum algumas pessoas até criticarem alguém pelo fato de ter se suicidado enquanto outras lutam pela vida. Infelizmente, muitas vezes, o suicida é relacionado com alguém fraco e que não foi capaz de lutar.
Por isso, a importância de livros como esses serem disseminados para que as pessoas falem, sim, de suicídio, mas não como crítica. Falar sobre não é estimular, mas uma medida preventiva.

Ler esse livro durante o Setembro Amarelo tornou tudo mais único ainda e me fez pensar bastante sobre o assunto. Se você não leu ainda esse livro, leia e amplie sua visão sobre o assunto. Eu garanto que será bastante válido. 



Deixo aqui com vocês o link do Centro de Valorização da Vida, que é um serviço voluntário que presta apoio emocional e preventivo em relação ao suicídio. Nesse site, você pode entrar em contato por meio de chat, skype ou email com voluntários para conversar e desabafar, tendo assegurado o seu sigilo. Ou é possível contatá-los também pelo telefone 141 (24 horas).

Espero que tenham gostado da resenha e que eu tenha conseguido despertar em vocês a vontade de ler esse livro.

Bjs e até a próxima. 


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Setembro Amarelo

Por estarmos no Setembro Amarelo (campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio) gostaria de compartilhar o link do Centro de Valorização de Vida. 

O CVV é uma associação que presta serviço de apoio emocional e prevenção ao suicídio. Se você precisar de ajuda entre no site do CVV, nele você pode entrar em contato, de forma anônima, com voluntários por meio do chat, skype ou email. Ou ainda pode ligar para 141.

''O suicídio não acaba com as chances da vida piorar, o suicídio elimina a possibilidade de ela algum dia melhorar.''. Viver é a melhor opção. Você tem valor!!!

Peço para que quem puder compartilhe essa informação.

http://www.cvv.org.br/quero-conversar.php


Olá, hoje, lendo o livro Por Lugares Incríveis da Jennifer Niven senti a necessidade de falar sobre suicídio e orientar sobre esse site, por isso escrevi esse texto acima. Estou divulgando no blog e em minhas redes sociais. Se você puder, peço que também divulgue. 

Caso esteja precisando de ajuda, procure algum voluntário no site e, caso deseje, pode comentar anonimante aqui no post, com certeza, irei tirar um tempo para ler e te responder. Ficarei feliz em puder te ajudar e saiba que você tem valor e que existem outros meios para terminar com toda dor e sofrimento que sente, conte comigo!


sábado, 17 de setembro de 2016

Carta de Um Diretor


Carta de um diretor de escola para os pais antes da semana de provas:
Prezados Pais,
A semana de provas está para começar. Eu sei que vocês estão esperando que seus filhos se saiam bem.
Mas por favor, lembrem-se de que, dentre os estudantes que estão sentados ali para fazer a prova, há um artista, que não precisa entender de matemática.
Há um empreendedor, que não se importa com história ou literatura.
Há um músico, cujas notas em química não importam.
Há um esportista, cujo preparo físico é mais importante do que a física... assim como a escolaridade.
Se seu filho obtiver as melhores notas, ótimo! Mas se não, por favor, não tire dele ou dela sua autoconfiança e sua dignidade.
Diga-lhes que tudo bem! É só uma prova. Eles foram talhados para coisas muito mais importantes na vida.
Diga-lhes que, independentemente de sua nota, você os ama e não os julga.
Façam isso, por favor. E quando fizer, veja-os conquistarem o mundo. Uma prova ou uma nota baixa não vai lhes tirar os próprios sonhos ou seu talento.
E, por favor, não pense que médicos ou engenheiros ou advogados são as únicas pessoas felizes no mundo.

Com carinho,
A diretoria.

Vi esse texto circulando no Facebook e achei interessantíssimo. Por isso, resolvi compartilhar aqui no blog. Realmente, por diversas vezes, a escola não avalia ''corretamente'' os alunos e isso acaba sendo frustante para vários desses. Muitas vezes, vemos a inteligência como sinônimo de boas notas, desvalorizando outras habilidades que refletem a inteligência de alguém. A vida é importante demais para se prender a critérios tão restritos. Espero que um dia  tenhamos uma escola que não apenas nos ''sufoca'' com várias matérias e foquem, principalmente, em vestibulares, mas escolas que foquem também nas artes, esportes e,especialmente, na formação de bons cidadãos e humanos. 

Beijos e até a próxima! 

sábado, 30 de julho de 2016

A Cidade do Sol - Khaled Hosseini

Olá, pessoal!!! 


A resenha de hoje é de um livro que a muito tempo eu vinha procrastinando a leitura e que, agora, depois que o li, arrependo-me de não ter lido antes. O livro é indescritível, eu nem sei se vou conseguir passar para vocês o quão bom ele é. 
Além de ser tocante e emocionante; o autor consegue nos envolver de uma forma que você sofre junto com as personagens, você sorri, torce, fica tensa...com certeza, é um misto de sensações e eu j-a-m-a-i-s vou me esquecer desses personagens.

Bem, a história pode ser divida em três partes. Começa com a vida de Mariam, posteriormente a de Laila e a terceira parte seria o ponto em que as duas se encontram.

Mariam é uma garota que vive isolada com a sua mãe em uma vila numa kolba (habitação semelhante a imagem abaixo). Ela era filha bastarda de Jalil e, por isso, após sua mãe engravidar ela foi viver reclusa nesse local. Poucas coisas faziam a vida dela alegre e uma delas era a visita de seu pai, Jalil, que uma vez por semana ia visita-lá. Ela idealizada uma vida em que um dia poderia ir morar com ele na cidade, ir à escola e ter uma vida normal como as demais crianças. 



Após a morte de sua mãe, ela passa a viver junto com seu pai e suas esposas e filhos. No entanto, a partir desse momento, a sua vida não vai ser nada parecida com a que ela sonhou viver. Com apenas 15 anos, ela vai ser entregue em casamento a um homem bem mais velho.
De início, sua vida não foi tão ruim quanto ela imaginava, mas quando o marido percebe que ela não o dará filhos, seu comportamento muda e tudo que ela passa a fazer o irrita. 

Laila, a segunda personagem, vive uma realidade completamente diferente. Filha de um professor universitário, ela tem acesso ao conhecimento e tem diversas oportunidades para seu futuro, vida que muitas de suas amigas não podiam compartilhar, pois era certo que em breve casariam. Por ter um pai mais estudado, Laila não vivia sobre o autoritarismo de um pai machista e tinha a certeza de poder escolher o seu futuro.
Além disso, ela cresceu próxima de seu vizinho e melhor amigo, Tariq. Que sempre a protegeu e que passava várias horas livres com ela. 

Contudo, a guerra no Afeganistão rouba além de seu futuro, sua família e seu melhor amigo. E é nesse momento que ela vai ser salva pela Mariam e as duas histórias vão se cruzar.

A vida das duas vai ser marcada por sofrimento e violência, diante de uma sociedade machista e que sofre constantemente com os impasses da guerra. Mas, mesmo com toda essa realidade, a esperança delas nunca morre e a força que elas tem se mantém constante e é o que faz elas resistirem a tudo isso bravamente.

Com certeza, o que mais marca no livro é essa força inabalável das personagens. Além disso, saber que, infelizmente, esse livro é baseado numa realidade que ainda prevalece não só no Afeganistão, mas em outros países islâmicos ou marcados pela guerra e pela presença do talibã, faz com que a história seja ainda mais marcante e forte. É praticamente impossível não se comover com a vida das personagens e sentir tudo junto com elas. Como eu gosto demais de ler sobre esses países, especialmente sobre a vida das mulheres neles, esse livro foi um retrato de uma sociedade sofrida, mas que não desiste de construir um país melhor.

PS: Poucos são os personagens masculinos que me marcam profundamente e pelos quais me encanto. Mesmo o Augustus, o Patch, o Peeta..ou mesmo, o clássico Darcy não me marcaram tanto, claro que são ótimos personagens. Mas, até hoje, de encanto mesmoooo só o meu Gabe de Soul Love. Porém, apesar de não ser o personagem principal, o Tariq chamou demais a minha atenção e não teve como não se apaixonar por ele e torcer pelo casalzinho de infância Laila e Tariq. 

Bom, já falei demais, mas com um  livro espetacular e indescritível desse é bastante difícil ser concisa. 
                                        
Espero que tenham gostado! Beijooos 
“Não se podem contar as luas que brilham em seus telhados, Nem os mil sóis esplêndidos que se escondem por trás de seus muros.”(Saib-e-Tabrizi)

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Princesa Adormecida - Paula Pimenta

Olá, pessoal!!

A resenha de hoje é de mais um livro da Paula Pimenta, uma autora que eu amo demais. A Princesa Adormecida é uma readaptação da história A Bela Adormecida. Quem conhece a autora sabe o quanto ela ama esse mundo Disney, princesa, conto de fadas. E nesse livro, ela resolve criar um conto de fadas moderno em cima daquele. 

A protagonista é Rosa, na verdade, Áurea. É uma adolescente, estudante de um colégio interno, de dezesseis anos que foi criada pela tios sendo super protegida. Esses sempre a orientaram acerca dos perigos existentes no mundo e, com toda essa proteção, Rosa foi privada de bastante coisa e, por isso, em seu aniversário de dezesseis anos é a primeira vez que ela sai com as amigas sozinha.

Nesse dia, ela descobre o quão legal é sair para se divertir e conhecer pessoas novas. Depois dessa  noite com as amigas do colégio, ela começa a receber mensagens no celular de um garoto desconhecido, que procura conhece-la melhor. Ela se divide entre o medo de falar com um estranho, desapontando seus tios e a curiosidade de conhecer melhor um menino aparentemente tão simpático e compreensivo.

Rosa decide se arriscar e se envolve com o garoto, trocando diariamente várias mensagens e passam até a se comunicar por ligações. Porém, depois dessas mensagens tudo em sua vida vai mudar. Assim como a Bela Adormecida ela vai ''adormecer'' e quando acordar, irá descobrir que toda a sua vida não passou de uma farsa e que ela sempre fora enganada; ela não era Rosa, exatamente, mas sim Áurea, uma princesa que todos achavam que estava morta. 



Bem, assim como os demais livros da Paula Pimenta, essa é uma leitura leve, que flui facilmente. Um livro que você pode ler em apenas um dia. O ambiente e diálogos juvenis são uma delícia e relembra os tempos de colégio. Mas talvez tanta inocência e leveza, deixou o livro infantil demais. A protagonista é muito boba para a idade, as vezes dava uma vontade de sacudir ela e falar ''acorda, mulher'', rs. 
Eu falo isso porque quando li '' Minha Vida Fora de Série'' os personagens tinham atitudes bem condizentes com a idade e eu me identifiquei DEMAIS com o livro por parecer tão próximo da realidade. 

Mas com certeza é uma boa leitura, especialmente para quem procura uma leitura leve, rápida e juvenil. É um bom livro para ler depois de um livro com uma temática mais ''pesada''.
PS: Que capa linda é essa?!! <3

Espero que tenham gostado. Beijoooos!!


sexta-feira, 24 de junho de 2016

Fábula - O Leão e o Ratinho


Caía a tarde na selva. E ao longe pelos caminhos, ouvia-se a passarada que regressava a seus ninhos. Na beira de uma lagoa, os sapos em profusão, cantavam bem ritmados, a sua velha canção. No mais, tudo era silêncio. 

No entanto, nesse momento, surgiu um velho leão, à procura de alimento. Andava orgulhosamente, com passos lentos, pesados. E por onde ele passava, os bichos apavorados, fugiam para suas tocas, deixando livre o caminho. 

Porém, eis que de repente, surgiu um pobre ratinho. O leão não perdeu tempo e assim estendendo a pata, alcançou o pobrezinho que corria pela mata.

- Vejam só, que sorte a minha! Abocanhei-te seu moço. Tu não és lá muito grande, mas já serve para o almoço! 

- Tenha piedade senhor! - Oh, solte-me por favor! Do que lhe serve matar-me! Pois veja bem, se me come, eu sou tão pequenininho, que mal posso matar-lhe a fome.

- Pensando bem, tens razão! Eu vou soltar-te ratinho. O que ia fazer contigo, assim pequeno, magrinho. Segue em paz o teu passeio. Não vês, sou teu amigo, para mim de nada serves, quase não pode contigo!

- Seu Leão, esse favor, eu jamais esquecerei. Se puder, algum dia, ainda lhe pagarei.

- Oh! - Pagar-me? Ora! Tu mal aguenta contigo! O que poderias fazer a meu favor, pobre amigo!

- Não sei, não sei majestade, mas prometo-lhe outra vez, algum dia, hei de pagar-lhe, o grande bem que me fez!

E assim dizendo, o ratinho correu e muito feliz entrou no seu buraquinho. E o leão tranquilamente, embrenhou-se na floresta.

Entretanto, de repente, o pobre animal, caiu na rede de um caçador. E a fera se debatendo de raiva e pavor, urrava! E quanto mais se esforçava, mais a corda o enlaçava. Nesse instante, o tal ratinho, que de longe tudo ouvia, chegou perto do leão, que urrando se debatia. 

- Não se aflija meu amigo, aqui estou para salvá-lo. Espere. Fique tranquilo, pois vou tentar libertá-lo. Deixe-me roer a corda que o prendeu... assim...assim... não se mexa por favor, descanse e confie em mim. 

E o ratinho foi roendo, roendo insistentemente, até que a corda cedeu e arrebentou finalmente! 

- Pronto, estou livre afinal! - Muito obrigado ratinho. O que seria de mim sem tua ajuda, amiguinho!

E o ratinho humildemente, cheio de satisfação, estendeu sua patinha ao grande e velho leão!

- Amigo, não me agradeça, entretanto aprenda bem, não faça pouco dos fracos, confie neles também!

terça-feira, 3 de maio de 2016

A Seleção - Kiera Cass

Olá, tudo bem? Vamos para mais uma resenha!!



A resenha de hoje é de um livro que virou a febre entre as minhas amigas na época do lançamento. Mas eu, como sempre, fujo dos livros da ''modinha'' e só o li  esse ano, que é o ano do lançamento do último livro da série inclusive. E sim, eu me arrependo de não ter lido antes!!!!! 

Uma amiga minha sempre me indicava ele e eu fugia. Até que um dia fui trocar uns livros no sebo e o encontrei lá, não sei o que me deu, mas resolvi tentar a leitura e em menos de um mês eu li todos os livros da série já lançados e já encomendei o último que foi lançado hoje. É muito viciante e envolvente.

A história se passa em um país que passou por um longo período de guerra e que nessas circunstâncias passou a ser governado por meio de uma monarquia e a sociedade foi dividida em castas. A protagonista é América Singer, uma garota da casta cinco, que levava uma vida simples juntamente a sua família, a qual vivia da arte. Ela, junto com seus familiares, tocavam e cantavam nas casas das castas superiores.
A sociedade de Illéia era dividida em oito castas e a desigualdade social era gritante. América é apaixonada por Aspen, uma amigo de infância da casta seis, o qual a família fazia alguns serviços na casa dela e, assim, os dois se aproximaram. Mas a relação entre os dois eram mantida em segredo por ele ser de uma casta inferior. 

Até que América recebe um convite para participar da Seleção, seriam escolhidas 35 garotas dentre as inscritas para irem ao palácio de Illéia e uma delas seria escolhida pelo príncipe para ser sua esposa e futura rainha. 


Sua mãe insiste para que ela se inscreva, pois ela via na seleção uma oportunidade única para a filha e a chance de a família melhorar de vida. E Aspen pede o mesmo para a América na esperança de que ela pudesse ter um futuro melhor do que teria com ele. Sem acreditar que seria escolhida, América resolve se inscrever para agradar ambos os lados e mostrar que ao menos tinha tentado. 

Porém, no dia do anúncio oficial, seu nome está entre as selecionadas e um misto de sentimentos invade ela, o medo de enfrentar uma realidade de vida tão diferente da sua, a curiosidade devido essa diferença e a tristeza em ter que abandonar seu amor, Aspen.

Ela que sempre fora uma garota simples e que acreditava não precisar de muito para viver, vê-se diante de um futuro que ela nunca tinha ousado imaginar e diante de um príncipe muito diferente do que ela imagina, sem arrogância, prepotência, vaidade...mas cheio de bondade, humildade e bom humor. 
''Desde o começo da Seleção, vinha pensando que minha vida seria arruinada ali. Mas, naquele momento, o castelo parecia exatamente o lugar em que eu deveria estar. '' (página 357) 
Se você não leu ainda, sei que, possivelmente, deve estar pensando: ''ahh..35 meninas pra um príncipe escolher?! Sério que é só isso?'' 
O livro é clichê, mas é muito bom para ler depois de um livro mais ''pesado'', fluido, recheado de diálogos cheio de humor e o príncipe..rsrs. Além de retratar a desigualdade social e os problemas relacionados a ela. 

Espero que tenham gostado, como já li os três livros seguintes da série...em breve estarei postando as resenhas aqui. 
Beijos!!

Missa do Galo - Machado de Assis (Conto Integral)

Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite. 
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranqüilo, naquela casa assobradada da rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.
Boa Conceição! Chamavam-lhe "a santa", e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.
Naquela noite de Natal foi o escrivão ao teatro. Era pelos anos de 1861 ou 1862. Eu já devia estar em Mangaratiba, em férias; mas fiquei até o Natal para ver "a missa do galo na Corte". A família recolheu-se à hora do costume; eu meti-me na sala da frente, vestido e pronto. Dali passaria ao corredor da entrada e sairia sem acordar ninguém. Tinha três chaves a porta; uma estava com o escrivão, eu levaria outra, a terceira ficava em casa.
- Mas, Sr. Nogueira, que fará você todo esse tempo? perguntou-me a mãe de Conceição.
- Leio, D. Inácia.
Tinha comigo um romance, os Três Mosqueteiros, velha tradução creio do Jornal do Comércio. Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo magro de D’Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava completamente ébrio de Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar; levantei a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de Conceição.
- Ainda não foi? Perguntou ela.
- Não fui; parece que ainda não é meia-noite.
- Que paciência!
Conceição entrou na sala, arrastando as chinelinhas da a1cova. Vestia um roupão branco, mal apanhado na cintura. Sendo magra, tinha um ar de visão romântica, não disparatada com o meu livro de aventuras. Fechei o livro; ela foi sentar-se na cadeira que ficava defronte de mim, perto do canapé. Como eu lhe perguntasse se a havia acordado, sem querer, fazendo barulho, respondeu com presteza:

- Não! qual! Acordei por acordar.
Fitei-a um pouco e duvidei da afirmativa. Os olhos não eram de pessoa que acabasse de dormir; pareciam não ter ainda pegado no sono. Essa observação, porém, que valeria alguma coisa em outro espírito, depressa a botei fora, sem advertir que talvez não dormisse justamente por minha causa, e mentisse para me não afligir ou aborrecer. Já disse que ela era boa, muito boa.
- Mas a hora já há de estar próxima, disse eu.
- Que paciência a sua de esperar acordado, enquanto o vizinho dorme! E esperar sozinho! Não tem medo de almas do outro mundo? Eu cuidei que se assustasse quando me viu.
- Quando ouvi os passos estranhei; mas a senhora apareceu logo.
- Que é que estava lendo? Não diga, já sei, é o romance dos Mosqueteiros.
- Justamente: é muito bonito.
- Gosta de romances?
- Gosto.
- Já leu a Moreninha?
- Do Dr. Macedo? Tenho lá em Mangaratiba.
- Eu gosto muito de romances, mas leio pouco, por falta de tempo. Que romances é que você tem lido?
Comecei a dizer-lhe os nomes de alguns. Conceição ouvia-me com a cabeça reclinada no espaldar, enfiando os olhos por entre as pálpebras meio-cerradas, sem os tirar de mim. De vez em quando passava a língua pelos beiços, para umedecê-los. Quando acabei de falar, não me disse nada; ficamos assim alguns segundos. Em seguida, vi-a endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem desviar de mim os grandes olhos espertos.
- Talvez esteja aborrecida, pensei eu.
E logo alto:
- D. Conceição, creio que vão sendo horas, e eu...
- Não, não, ainda é cedo. Vi agora mesmo o relógio; são onze e meia. Tem tempo. Você, perdendo a noite, é capaz de não dormir de dia?
- Já tenho feito isso.
- Eu, não; perdendo uma noite, no outro dia estou que não posso, e, meia hora que seja, hei de passar pelo sono. Mas também estou ficando velha.
- Que velha o quê, D. Conceição?
Tal foi o calor da minha palavra que a fez sorrir. De costume tinha os gestos demorados e as atitudes tranqüilas; agora, porém, ergueu-se rapidamente, passou para o outro lado da sala e deu alguns passos, entre a janela da rua e a porta do gabinete do marido. Assim, com o desalinho honesto que trazia, dava-me uma impressão singular. Magra embora, tinha não sei que balanço no andar, como quem lhe custa levar o corpo; essa feição nunca me pareceu tão distinta como naquela noite. Parava algumas vezes, examinando um trecho de cortina ou consertando a posição de algum objeto no aparador; afinal deteve-se, ante mim, com a mesa de permeio. Estreito era o círculo das suas idéias; tornou ao espanto de me ver esperar acordado; eu repeti-lhe o que ela sabia, isto é, que nunca ouvira missa do galo na Corte, e não queria perdê-la.
- É a mesma missa da roça; todas as missas se parecem.
- Acredito; mas aqui há de haver mais luxo e mais gente também. Olhe, a semana santa na Corte é mais bonita que na roça. São João não digo, nem Santo Antônio...
Pouco a pouco, tinha-se inclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas. Não estando abotoadas, as mangas, caíram naturalmente, e eu vi-lhe metade dos braços, muitos claros, e menos magros do que se poderiam supor. A vista não era nova para mim, posto também não fosse comum; naquele momento, porém, a impressão que tive foi grande. As veias eram tão azuis, que apesar da pouca claridade, podia contá-las do meu lugar. A presença de Conceição espertara-me ainda mais que o livro. Continuei a dizer o que pensava das festas da roça e da cidade, e de outras coisas que me iam vindo à boca. Falava emendando os assuntos, sem saber por quê, variando deles ou tornando aos primeiros, e rindo para fazê-la sorrir e ver-lhe os dentes que luziam de brancos, todos iguaizinhos. Os olhos dela não eram bem negros, mas escuros; o nariz, seco e longo, um tantinho curvo, dava-lhe ao rosto um ar interrogativo. Quando eu alteava um pouco a voz, ela reprimia-me:
- Mais baixo! Mamãe pode acordar.
E não saía daquela posição, que me enchia de gosto, tão perto ficavam as nossas caras. Realmente, não era preciso falar alto para ser ouvido; cochichávamos os dois, eu mais que ela, porque falava mais; ela, às vezes, ficava séria, muito séria, com a testa um pouco franzida. Afinal, cansou; trocou de atitude e de lugar. Deu volta à mesa e veio sentar-se do meu lado, no canapé. Voltei-me, e pude ver, a furto, o bico das chinelas; mas foi só o tempo que ela gastou em sentar-se, o roupão era comprido e cobriu-as logo. Recordo-me que eram pretas. Conceição disse baixinho:
- Mamãe está longe, mas tem o sono muito leve; se acordasse agora, coitada, tão cedo não pegava no sono.
- Eu também sou assim.
- O quê? Perguntou ela inclinando o corpo para ouvir melhor.
Fui sentar-me na cadeira que ficava ao lado do canapé e repeti a palavra. Riu-se da coincidência; também ela tinha o sono leve; éramos três sonos leves.
- Há ocasiões em que sou como mamãe: acordando, custa-me dormir outra vez, rolo na cama, à toa, levanto-me, acendo vela, passeio, torno a deitar-me, e nada.
- Foi o que lhe aconteceu hoje.
- Não, não, atalhou ela.
Não entendi a negativa; ela pode ser que também não a entendesse. Pegou das pontas do cinto e bateu com elas sobre os joelhos, isto é, o joelho direito, porque acabava de cruzar as pernas. Depois referiu uma história de sonhos, e afirmou-me que só tivera um pesadelo, em criança. Quis saber se eu os tinha. A conversa reatou-se assim lentamente, longamente, sem que eu desse pela hora nem pela missa. Quando eu acabava uma narração ou uma explicação, ela inventava outra pergunta ou outra matéria, e eu pegava novamente na palavra. De quando em quando, reprimia-me:
- Mais baixo, mais baixo...
Havia também umas pausas. Duas outras vezes, pareceu-me que a via dormir; mas os olhos, cerrados por um instante, abriam-se logo sem sono nem fadiga, como se ela os houvesse fechado para ver melhor. Uma dessas vezes creio que deu por mim embebido na sua pessoa, e lembra-me que os tornou a fechar, não sei se apressada ou vagarosamente. Há impressões dessa noite, que me aparecem truncadas ou confusas. Contradigo-me, atrapalho-me. Uma das que ainda tenho frescas é que, em certa ocasião, ela, que era apenas simpática, ficou linda, ficou lindíssima. Estava de pé, os braços cruzados; eu, em respeito a ela, quis levantar-me; não consentiu, pôs uma das mãos no meu ombro, e obrigou-me a estar sentado. Cuidei que ia dizer alguma coisa; mas estremeceu, como se tivesse um arrepio de frio, voltou as costas e foi sentar-se na cadeira, onde me achara lendo. Dali relanceou a vista pelo espelho, que ficava por cima do canapé, falou de duas gravuras que pendiam da parede.
- Estes quadros estão ficando velhos. Já pedi a Chiquinho para comprar outros.
Chiquinho era o marido. Os quadros falavam do principal negócio deste homem. Um representava "Cleópatra"; não me recordo o assunto do outro, mas eram mulheres. Vulgares ambos; naquele tempo não me pareciam feios.
- São bonitos, disse eu.
- Bonitos são; mas estão manchados. E depois francamente, eu preferia duas imagens, duas santas. Estas são mais próprias para sala de rapaz ou de barbeiro.
- De barbeiro? A senhora nunca foi a casa de barbeiro.
- Mas imagino que os fregueses, enquanto esperam, falam de moças e namoros, e naturalmente o dono da casa alegra a vista deles com figuras bonitas. Em casa de família é que não acho próprio. É o que eu penso; mas eu penso muita coisa assim esquisita. Seja o que for, não gosto dos quadros. Eu tenho uma Nossa Senhora da Conceição, minha madrinha, muito bonita; mas é de escultura, não se pode pôr na parede, nem eu quero. Está no meu oratório.
A idéia do oratório trouxe-me a da missa, lembrou-me que podia ser tarde e quis dizê-lo. Penso que cheguei a abrir a boca, mas logo a fechei para ouvir o que ela contava, com doçura, com graça, com tal moleza que trazia preguiça à minha alma e fazia esquecer a missa e a igreja. Falava das suas devoções de menina e moça. Em seguida referia umas anedotas de baile, uns casos de passeio, reminiscências de Paquetá, tudo de mistura, quase sem interrupção. Quando cansou do passado, falou do presente, dos negócios da casa, das canseiras de família, que lhe diziam ser muitas, antes de casar, mas não eram nada. Não me contou, mas eu sabia que casara aos vinte e sete anos.
Já agora não trocava de lugar, como a princípio, e quase não saíra da mesma atitude. Não tinha os grandes olhos compridos, e entrou a olhar à toa para as paredes.
- Precisamos mudar o papel da sala, disse daí a pouco, como se falasse consigo.
Concordei, para dizer alguma coisa, para sair da espécie de sono magnético, ou o que quer que era que me tolhia a língua e os sentidos. Queria e não queria acabar a conversação; fazia esforço para arredar os olhos dela, e arredava-os por um sentimento de respeito; mas a idéia de parecer que era aborrecimento, quando não era, levava-me os olhos outra vez para Conceição. A conversa ia morrendo. Na rua, o silêncio era completo.
Chegamos a ficar por algum tempo, - não posso dizer quanto, - inteiramente calados. O rumor único e escasso, era um roer de camundongo no gabinete, que me acordou daquela espécie de sonolência; quis falar dele, mas não achei modo. Conceição parecia estar devaneando. Subitamente, ouvi uma pancada na janela, do lado de fora, e uma voz que bradava: "Missa do galo! missa do galo!"
- Aí está o companheiro, disse ela levantando-se. Tem graça; você é que ficou de ir acordá-lo, ele é que vem acordar você. Vá, que hão de ser horas; adeus.
- Já serão horas? perguntei.
- Naturalmente.
- Missa do galo! repetiram de fora, batendo.
-Vá, vá, não se faça esperar. A culpa foi minha. Adeus; até amanhã.
E com o mesmo balanço do corpo, Conceição enfiou pelo corredor dentro, pisando mansinho. Saí à rua e achei o vizinho que esperava. Guiamos dali para a igreja. Durante a missa, a figura de Conceição interpôs-se mais de uma vez, entre mim e o padre; fique isto à conta dos meus dezessete anos. Na manhã seguinte, ao almoço, falei da missa do galo e da gente que estava na igreja sem excitar a curiosidade de Conceição. Durante o dia, achei-a como sempre, natural, benigna, sem nada que fizesse lembrar a conversação da véspera. Pelo Ano-Bom fui para Mangaratiba. Quando tornei ao Rio de Janeiro, em março, o escrivão tinha morrido de apoplexia. Conceição morava no Engenho Novo, mas nem a visitei nem a encontrei. Ouvi mais tarde que casara com o escrevente juramentado do marido.


Fonte: Contos Consagrados - Machado de Assis - Coleção Pretígio - Ediouro - s/d.

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