Gente, esse texto caiu na minha prova e na hora lembrei de postá-lo aqui.
Espero que gostem e pensem no que ele quer passar para os leitores. É da escritora Lya Luft!!! =D
Espero que gostem e pensem no que ele quer passar para os leitores. É da escritora Lya Luft!!! =D
Brasileiro não gosta de ler?
A meninada precisa ser seduzida. Ler pode ser
divertido
e interessante,
pode entusiasmar,
distrair e dar prazer.
Não é a primeira vez que falo nesse assunto, o
da quantidade assustadora de analfabetos deste nosso Brasil. Não sei
bem a cifra oficial, e não acredito muito em cifras oficiais. Primeiro,
precisa ser esclarecida a questão do que é analfabetismo. E, para
mim, alfabetizado não é quem assina o nome, talvez embaixo de
um documento, mas quem assina um documento que conseguiu ler e... entender.
A imensa maioria dos ditos meramente alfabetizados não está nessa
lista, portanto são analfabetos – um dado melancólico para
qualquer país civilizado. Nem sempre um povo leitor interessa a um governo
(falo de algum país ficcional), pois quem lê é informado,
e vai votar com relativa lucidez. Ler e escrever faz parte de ser gente.
Sempre fui de muito ler, não por virtude, mas porque
em nossa casa livro era um objeto cotidiano, como o pão e o leite. Lembro
de minhas avós de livro na mão quando não estavam lidando
na casa. Minha cama de menina e mocinha era embutida em prateleiras. Criança
insone, meu conforto nas noites intermináveis era acender o abajur, estender
a mão, e ali estavam os meus amigos. Algumas vezes acordei minha mãe
esquecendo a hora e dando risadas com a boneca Emília, de Monteiro Lobato,
meu ídolo em criança: fazia mil artes e todo mundo achava graça.
E a escola não conseguiu estragar esse meu amor pelas
histórias e pelas palavras. Digo isso com um pouco de ironia, mas sem
nenhuma depreciação ao excelente colégio onde estudei,
quando criança e adolescente, que muito me preparou para o mundo maior
que eu conheceria saindo de minha cidadezinha aos 18 anos. Falo da impropriedade,
que talvez exista até hoje (e que não era culpa das escolas, mas
dos programas educacionais), de fazer adolescentes ler os clássicos brasileiros,
os românticos, seja o que for, quando eles ainda nem têm o prazer
da leitura. Qualquer menino ou menina se assusta ao ler Macedo, Alencar e outros:
vai achar enfadonho, não vai entender, não vai se entusiasmar.
Para mim esses programas cometem um pecado básico e fatal, afastando
da leitura estudantes ainda imaturos.
Como ler é um hábito raro entre nós, e
a meninada chega ao colégio achando livro uma coisa quase esquisita,
e leitura uma chatice, talvez ela precise ser seduzida: percebendo que ler pode
ser divertido, interessante, pode entusiasmar, distrair, dar prazer. Eu sugiro
crônicas, pois temos grandes cronistas no Brasil, a começar por
Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, além dos vivos como Verissimo e outros
tantos. Além disso, cada um deve descobrir o que gosta de ler, e vai
gostar, talvez, pela vida afora. Não é preciso que todos amem
os clássicos nem apreciem romance ou poesia. Há quem goste de
ler sobre esportes, explorações, viagens, astronáutica
ou astronomia, história, artes, computação, seja o que
for.
O que é preciso é ler. Revista serve, jornal
é ótimo, qualquer coisa que nos faça exercitar esse órgão
tão esquecido: o cérebro. Lendo a gente aprende até sem
sentir, cresce, fica mais poderoso e mais forte como indivíduo, mais
integrado no mundo, mais curioso, mais ligado. Mas para isso é preciso,
primeiro, alfabetizar-se, e não só lá pelo ensino médio,
como ainda ocorre. Os primeiros anos são fundamentais não apenas
por serem os primeiros, mas por construírem a base do que seremos, faremos
e aprenderemos depois. Ali nasce a atitude em relação ao nosso
lugar no mundo, escolhas pessoais e profissionais, pela vida afora. Por isso,
esses primeiros anos, em que se aprende a ler e a escrever, deviam ser estimulantes,
firmes, fortes e eficientes (não perversamente severos). Já se
faz um grande trabalho de leitura em muitas escolas. Mas, naquelas em que com
9 ou 10 anos o aluno ainda não usa com naturalidade a língua materna,
pouco se pode esperar. E não há como se queixar depois, com a
eterna reclamação de que brasileiro não gosta de ler: essa
porta nem lhe foi aberta.
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