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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Baleias não me emocionam - Lya Luft

          Hoje quero falar de gente e bichos. De notícias que freqüentemente aparecem sobre baleias encalhadas e pinguins perdidos em alguma praia. Não sei se me aborrece ou me inquieta ver tantas pessoas acorrendo, torcendo, chorando, porque uma baleia morre encalhada. Mas certamente não me emociona. Sei que não vão me achar muito simpática, mas eu não sou sempre simpática. Aliás, se não gosto de grosseria nem de vulgaridade, também desconfio dos eternos bonzinhos, dos politicamente corretos, dos sempre sorridentes ou gentis. Prefiro o olho no olho, a clareza e a sinceridade – desde que não machuque só pelo prazer de magoar ou por ressentimento. Não gosto de ver bicho sofrendo: sempre curti animais, fui criada com eles. Na casa onde nasci e cresci, tive até uma coruja, chamada, sabe Deus por quê, Sebastião. Era branca, enorme, com aqueles olhos que reviravam. Fugiu da gaiola especialmente construída para ela, quase do tamanho de um pequeno quarto, e por muitos dias eu a procurei no topo das árvores, doída de saudade. Na ilha improvável que havia no mínimo lago do jardim que se estendia atrás da casa, viveu a certa altura da minha infância um casal de veadinhos, dos quais um também fugiu. O outro morreu pouco depois. Segundo o jardineiro, morreu de saudade do fujão – minha primeira visão infantil de um amor romeu-e-julieta. Tive uma gata chamada Adelaide, nome da personagem sofredora de uma novela de rádio que fazia suspirar minha avó, e que meu irmão pequeno matou (a gata), nunca entendi como – uma das primeiras tragédias de que tive conhecimento. 
      De modo que animais fazem parte de minha história, com muitas aventuras, divertimento e alguma tristeza. Mas voltemos às baleias encalhadas: pessoas torcem as mãos, chegam máquinas variadas para içar os bichos, aplicam-se lençóis molhados, abrem-se manchetes em jornais e as televisões mostram tudo em horário nobre. O público, presente ou em casa, acompanha como se fosse alguém da família e, quando o fim chega, é lamentado quase com pêsames e oração. Confesso que não consigo me comover da mesma forma: pouca sensibilidade, uma alma de gelos nórdicos, quem sabe? Mesmo os que não me apreciam, não creiam nisso. Não é que eu ache que sofrimento de animal não valha a pena, a solidariedade, o dinheiro. Mas eu preferia que tudo isso fosse gasto com eles depois de não haver mais crianças enfiando a cara no vidro de meu carro para pedir trocados, adultos famintos dormindo em bancos de praça, famílias morando embaixo de pontes ou adolescentes morrendo drogados nas calçadas. Tenho certeza de que um mendigo morto na beira da praia causaria menos comoção do que uma baleia. Nenhum Greenpeace defensor de seres humanos se moveria. Nenhuma manchete seria estampada. Uma ambulância talvez levasse horas para chegar, o corpo coberto por um jornal, quem sabe uma vela acesa. Curiosidade, rostos virados, um sentimentozinho de culpa, possivelmente irritação: cadê as autoridades, ninguém toma providência? Diante de um morto humano, ou de um candidato a morto na calçada, a gente se protege com uma armadura. De modo que (perdão) vejo sem entusiasmo as campanhas em favor dos animais – pelo menos enquanto se deletarem tão facilmente homens e mulheres.

26 comentários:

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    1. vcs vão toma no cu de vc

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    2. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

      aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
      aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
      aaaaaaaaaaaaaa

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    3. vcs são racistas?!

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  2. ME DESCULPE! EU SOU O MESMO ANONIMO QUE ESCREVEU O COMENTARIO REMOVIDO.EU NAO TIVE A INTENÇAO DE OFENDER NINGUEM, ME DESCULPE POR FAVOR! MESMO ASSIM EU VOU CONTINUAR ENTRANDO NO SEU BLOG E VOU CONTINUAR COLOCANDO MEUS COMENTARIOS SO QUE VOU TOMAR MAIS CUIDADO AO ESCREVE LOS. POR FAVOR,PEÇO QUE VC DIGA O QUE EU FIZ DE ERRADO,EU FUI GROSSA?MAU EDUCADA?POR FAVOR ME DIGA,E MAIS UMA VEZ ME DESCULPE.EU NAO QUIS OFENDER NINGUEM.

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  3. Concordo plenamente, existe um modismo ecológico, puramente midiático. As questões são muito mais profundas...desigualdade,consumismo,Life Style,e as pessoas não sabem de que lado estão...Sou agrônomo,com conhecimento acadêmico sobre ecologia e sim, sei da importância do equilíbrio flora-fauna- solo...mas nada de extremos por favor.Eduardo Dusek disse numa canção,"troque seu cachorro por uma criança pobre".A questão ambiental não está dissociada da equidade social...

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  5. Os seres humanos se preucupam com tudo menos com a sua própria espécie. Deviamos ajudar e mudar o ser humano visto que nós somos os causadores de tais coisas acontecerem com os animais e com a natureza. Lya Luft fala como sao feitas tantas campanhas para ajudar as baleias enquanto nao temos coragem de ajudar a pessoa que esta ao nosso lado, e isso é lamentável. Eu concordo com ela, gosto de animais so que prefiro os seres humanos.

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  6. Eu ainda acho um desserviço para comunidade protetora dos animais textos e posicionamentos desse tipo. Óbvio que há muito a ser feito em questões sociais de melhoramento e respeito da condição de vida da dignidade da nossa própria espécie e que todo o dia nos vemos situações absurdas nas ruas como crianças pedintes sendo exploras por pais que também foram explorados por seus pais perpetuando um ciclo de miséria que é simplesmente ignorado por nosso governo e pela nossa sociedade. Também não nego que a mídia pode se utilizar dessas notícias sobre animais considerados pelo público como dignos de proteção para desviar nossa atenção desses assuntos, mas não acho que criticar as pessoas por sua empatia seletiva é o caminho; ou ironizar, em suas palavras "Nenhum Greenpeace defensor dos seres humanos se moveria". Ora, se há o Greenpeace, com um objetivo muito bonito, diga-se de passagem, de defender os seres não-humanos e promover a empatia global por esses seres, excelente. Por que não aproveitar que essas mesmas pessoas foram capazes de mostrar essa capacidade de simpatizar com seres capazes de sofrimento e dor e apresentar a sua causa também, ao invés de tentar colocar terra na causa dos outros?

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    1. 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

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  7. Uma causa não anula a outra, simples assim. É possível salvar baleias e pessoas que passam fome, como outras causas, tudo em paralelo. Quem não enxerga isso é que não me comove.

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  8. Eu acho que os seres humanos podiam começar a se preocupar mais com as espécies. É muito triste ver que muitos não se importam

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  9. Na época, li esse artigo na revista veja, se não me engano. Gostei muito da sensibilidade da escritora Lya Luft. Nao me recordo, se no mesmo título. O que fixou em minha memória, foi a valorização que ela pontua, relação homem é animal. Nessa ordem. Temos que desenvolver essa mesma sensibilidade em nossas atitudes diárias. Cada coisa em sua ordem. Parabéns Lya Lucy, pela capacidade de transformar teus sentimentos em sábias palavras.

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  10. Na época, li esse artigo na revista veja, se não me engano. Gostei muito da sensibilidade da escritora Lya Luft. Nao me recordo, se no mesmo título. O que fixou em minha memória, foi a valorização que ela pontua, na relação homem e animal. Nessa ordem. Temos que desenvolver essa mesma sensibilidade em nossas atitudes diárias. Cada coisa em sua ordem. Parabéns Lya Lucy, pela capacidade de transformar teus sentimentos em sábias palavras.

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  11. eu dou um prato de comida pra um animal mas não dou pra um ser humano

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  12. Aaaaaahaah eu vou gozaaa

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  13. entendo que temos que ajudar primeiramente os humanos que estao passando dificuldades para melhorar o mundo, mas acho que assim que nascemos temos liberdade o suficiente para achar uma brecha se quer para respirar, as baleias nao sao da minha familia tao pouco as conheço mas essas coisas acontecem por que destruimos o lar delas para construir os nossos e estamos indo pro do poço juntos, para mudarmos o mundo temos que nos mudar primeiro.

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  14. fui saber desse texto só por causa que a professora de português passou para fazer atividade e vou ter que interpretar isso (tenho 13 anos e sou do 8 ano).

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