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domingo, 30 de dezembro de 2012

Primeiro Capítulo do livro Um dia - David Nicholls



Parte um

1988-1992

Vinte e poucos anos

“Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável.”
Charles Dickens, Grandes esperanças

CAPÍTULO UM

O futuro


Sexta-feira, 15 de julho de 1988
Rankeillor Street, Edimburgo

— Acho que o importante é fazer diferença — disse ela. — Mudar alguma coisa, sabe?

— Você está falando de “mudar o mundo”?

— Não o mundo inteiro. Só um pouquinho ao nosso redor.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, os corpos entrelaçados na cama de solteiro, depois começaram a rir em voz baixa, na mesma altura do amanhecer.

— Nem acredito que eu disse isso — murmurou ela. — Um pouco batido, não é?

— É, um pouco batido.

— Estou tentando servir de inspiração. Preparar sua alma negra para a grande aventura à sua frente. — Virou-se e olhou para ele. — Não que você precise disso. Imagino que já esteja com o futuro bem-planejado, muito bem-planejado. Deve ter até um fluxograma ou coisa assim guardado em algum lugar.

— Até parece.

— Então, o que você vai fazer? Qual é o seu grande plano?

— Bom, meus pais vão guardar minhas coisas na casa deles, depois vou passar uns dias no apartamento de Londres, ver alguns amigos. Depois França...

— Muito legal...

— Depois talvez China, ver o que acontece por lá, quem sabe ir até a Índia, viajar um pouco pelo país...

— Viajar — ela suspirou. — Tão previsível.

— O que há de errado em viajar?

— É mais uma forma de fugir da realidade.

— Eu acho que a realidade é algo muito superestimado — contestou, esperando que a frase soasse cínica e carismática.
Ela fungou.

— É, imagino que sim, para quem pode pagar. Mas por que não dizer simplesmente: “Vou tirar umas férias de dois anos”? É a mesma coisa.

— Porque viajar amplia os horizontes — respondeu ele, apoiando-se sobre um cotovelo e dando um beijo nela.

— Ah, acho que os seus horizontes já estão bem ampliados — comentou ela, virando a cabeça para o outro lado, ao menos naquele momento.

Os dois se ajeitaram outra vez no travesseiro. — De qualquer forma, eu não estava falando do que você vai fazer no mês que vem, estava falando do futuro mesmo, sei lá...
— Fez uma pausa, como se vislumbrasse uma ideia fantástica, uma quinta dimensão. — Quando você tiver uns quarenta anos. O que você quer ser quando tiver quarenta anos?

— Quarenta? — Ele pareceu se debater com aquele conceito. — Não sei. Será que posso responder “rico”?

— Mas isso é tão superficial.

— Está certo. Então, “famoso”. — Começou a esfregar o nariz no pescoço dela. — Um pouco mórbido tudo isso, não?

— Não é mórbido, é... fascinante.

— Fascinante! — Agora ele imitava a voz dela, seu leve sotaque de Yorkshire, fazendo-a parecer bobinha. Isso sempre acontecia com ela, garotos bacanas falando com voz engraçada, como se um sotaque fosse algo estranho e incomum, e não pela primeira vez sentiu um estremecimento de aversão em relação a ele que a tranquilizou. Afastou-se até apoiar as costas na parede fria.

— Sim, fascinante. E não é para menos, é? Com todas essas possibilidades. Como disse o diretor, “as portas da oportunidade se abriram...”.

— “Os seus nomes estarão nos jornais de amanhã...”

— Isso é pouco provável.

— Então por que você está tão empolgada?

— Empolgada? Eu estou morrendo de medo.

— Eu também. Saco... — Virou-se de repente e pegou o maço de cigarros no chão ao lado da cama, como para acalmar os nervos. — Quarenta anos de idade. Quarenta anos. Puta inferno.

Achando graça na aflição dele, ela resolveu piorar um pouco mais o cenário.

— Então, o que você vai estar fazendo quando tiver quarenta anos?

Ele acendeu o cigarro, pensativo.

— Bom, Em, o negócio é...
— “Em”? Quem é “Em”?

— Todo mundo chama você de Em. Eu ouvi.

— É, os meus amigos me chamam de Em.

— Então, posso te chamar de Em?

— Vai nessa, Dex.

— Bom, eu já andei pensando nessa história de “ficar velho” e decidi que vou continuar exatamente como sou no momento.

Dexter Mayhew. Ela o observou por entre a franja, recostado na cabeceira acolchoada da cama barata, e, mesmo sem óculos, entendeu muito bem por que ele queria continuar exatamente daquele jeito. Olhos fechados, o cigarro colado languidamente no lábio inferior, a luz da manhã filtrada pelo tom avermelhado das cortinas aquecendo um lado do rosto, ele parecia estar sempre posando para uma fotografia. Emma Morley considerava “bonitão” um termo banal, do século XIX, mas na verdade não havia outra palavra que o descrevesse, a não ser talvez “lindo”.

O rosto era daqueles em que você enxerga os ossos por baixo da pele, como se até a caveira fosse bonita. Um nariz afilado brilhava um pouco com a oleosidade, olheiras tão carregadas que pareciam hematomas, medalhas de honra por todos os cigarros e noites em claro perdendo deliberadamente para colegiais de Bedales no strip poker. Havia algo de felino em suas feições: sobrancelhas finas, a boca intencionalmente amuada, lábios um tanto sombrios e grossos, mas agora secos e rachados, arroxeados pelo vinho tinto búlgaro. Ainda bem que o cabelo era horrível, curto na nuca e nos lados, com um topetinho ridículo na frente.

Fosse qual fosse o gel que usava, já tinha perdido o efeito e agora o topete parecia fofo e atrevido, como um chapeuzinho idiota.

Ainda com os olhos fechados, ele exalou a fumaça pelo nariz. Sabia muito bem que estava sendo observado, porque enfiou a mão debaixo da axila, inflando os bíceps e os peitorais. De onde vinham aqueles músculos?

Por certo de nenhuma atividade esportiva, a não ser que nadar nu ou jogar sinuca fossem considerados esporte. Provavelmente era a boa saúde herdada da família, junto com as ações, participações nos lucros e móveis finos. Então ele era bonitão, lindo até, com uma cueca samba-canção estampada na altura dos ossos do quadril, e por alguma razão estava ali em sua cama de solteira naquele pequeno quarto alugado ao término de quatro anos de faculdade. “Bonitão”! Quem você pensa que é? Jane Eyre? Hora de crescer. Seja razoável. Não se deixe iludir.
Emma tirou o cigarro dos lábios dele.

— Eu posso imaginar como você vai ser aos quarenta anos — falou, um tom de malícia na voz. — Sei muito bem o que vai acontecer.

Dexter sorriu sem abrir os olhos.

— Então, diga.

— Tudo bem... — Ela se mexeu na cama, o edredom preso nas axilas.

— Você vai estar num carro esporte com a capota arriada em Kensington ou Chelsea, num desses lugares, e o mais incrível nesse carro é o fato de ser silencioso, porque todos os carros vão ser silenciosos em... sei lá quando... 2006?

Ele apertou os olhos, fazendo a conta.

— 2004...

— E o carro está na King’s Road a dez centímetros do chão, sua barriguinha está espremida embaixo do volante de couro como uma almofadinha e você está com aquelas luvas sem dedos, já com cabelo rareando e sem queixo. Você é um homem grandão num carro pequeno, comum bronzeado de peru assado...

— Vamos mudar de assunto?

— E tem uma mulher ao seu lado, de óculos escuros, sua terceira... não, quarta esposa, muito bonita, modelo... não, ex-modelo, vinte e três anos, que você conheceu enquanto ela posava no capô de um carro num salão do automóvel em Nice ou coisa assim, muito bonita e burra como uma porta...

— Bom, isso é legal. Algum filho?

— Não, sem filhos, só três divórcios. É uma sexta-feira de julho, vocês estão a caminho de uma casa de campo e no minúsculo porta-malas do seu carro voador tem raquetes de tênis, tacos de críquete e um cesto cheio de vinhos e uvas sul-africanas, aspargos e umas pobres codornas.

O vento bate no seu para-brisa e você se sente bem, muito bem consigo mesmo, e a esposa número três, ou quatro, sei lá, sorri para você com duzentos dentes brancos e brilhantes, e você sorri de volta e tenta não pensar no fato de vocês dois não terem nada, absolutamente nada, a dizer um ao outro.

Emma parou de repente. “Você está falando como uma doida”, disse para si mesma. “Tente não falar como uma doida.”

— Se serve de consolo, é claro que todos já teremos morrido numa guerra nuclear bem antes disso! — observou com leveza, mas ele continuou com o cenho franzido.
— Então acho melhor eu ir embora. Já que sou tão superficial e depravado...

— Não. Não vai, não — ela pediu, talvez um pouco ansiosa demais.

— São quatro da manhã.

Ele se ajeitou na cama até ficar com o rosto a poucos centímetros do dela.

— Não sei de onde você tirou essa ideia a meu respeito, você mal me conhece.

— Eu conheço o seu tipo.

— Meu tipo?

— Eu já vi você com a sua turma depois das aulas de literatura moderna, gritando uns com os outros, organizando festas black-tie...

— Eu nem tenho um smoking. E muito menos sou de gritar...

— Passeando de iate no Mediterrâneo em feriados prolongados, rá, rá, rá...

— Então, se eu sou assim tão canalha... — Agora a mão dele estava no quadril dela.

— E é mesmo.

— ...por que você está dormindo comigo? — A mão alojou-se na pele quente e macia da coxa.

— Na verdade acho que eu não dormi com você, dormi?

— Bem, isso depende. — Inclinou-se e beijou-a. — Defina os seus termos. — A mão tateava a base da coluna, uma perna enfiada entre as pernas dela.

— A propósito — murmurou ela, a boca colada na dele.

— O quê? — Sentiu a perna dela enlaçar a sua e puxá-lo mais para perto.

— Você precisa escovar os dentes.

— Eu não ligo se você não escovar.

— Mas está horrível — ela riu. — Sua boca está com gosto de vinho e cigarro.

— Tudo bem. A sua também está.

A cabeça dela se afastou num tranco, interrompendo o beijo.

— É mesmo?

— Eu não ligo. Eu gosto de vinho e de cigarro.

— Só um segundo. — Ela empurrou o edredom, passando por cima dele.
— Aonde você vai? — Encostou a mão nas costas nuas que se afastavam.

— Só vou até o trono — respondeu, pegando os óculos de cima da pilha de livros ao lado da cama: óculos grandes, armação preta, modelo comum.

— “Trono”, “trono”... Desculpe, não sei do que se trata...

Emma se levantou com um braço atravessado sobre o peito, tomando o cuidado de ficar de costas para ele.

— Não vá embora — falou enquanto se afastava, enganchando dois dedos no elástico para ajeitar a calcinha no alto das coxas. — E não vale se masturbar enquanto eu estiver fora.

Dexter expirou pelo nariz e se ajeitou na cama, examinando o mal-ajambrado quarto que ela aluga, sabendo com absoluta certeza que em algum lugar entre aqueles cartões-postais de arte e cartazes de peças de teatro alternativo haveria uma fotografia do Nelson Mandela, como uma espécie de namorado ideal que só existe no mundo dos sonhos. Já tinha visto muitos quartos como aquele nesses últimos quatro anos, espa lhados pela cidade como a cena de um crime, quartos onde nunca se estava a mais de dois metros de um disco da Nina Simone. Embora raramente tivesse visitado duas vezes o mesmo quarto, tudo era muito familiar. Os velhos abajures e os vasos de plantas desolados, o cheiro de sabão em pó em lençóis baratos que mal cabiam nas camas. Ela também tinha aquela paixão artística por fotomontagens, tão comum nas garotas: fotos de colegas da faculdade e da família misturando-se com desenhos de Chagall, Vermeer e Kandinsky, os Che Guevaras, os Woody Allens e os Samuel Becketts. Nada era neutro, tudo afirmava um ponto de vista. O quarto era um manifesto, e com um suspiro Dexter identificou-a como uma daquelas garotas que usavam “burguês” como um termo ofensivo. Ele entendia que “fascista” pudesse ter conotações negativas, mas gostava da palavra “burguês” e de tudo que tal termo implicava.

Segurança, viagens, boa comida, boas maneiras, ambição; por que deveria se sentir culpado por isso?

Observou as nuvens de fumaça saindo da própria boca. Tateando em busca de um cinzeiro, encontrou um livro ao lado da cama. A insustentável leveza do ser, com a lombada bem vincada nas partes “eróticas”.

O problema dessas garotas rebeldes e individualistas é que todas eram exatamente iguais. Outro livro: O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. “Que imbecil”, pensou, certo de que jamais cometeria aquele erro.

Com vinte e três anos, a visão que Dexter Mayhew tinha do próprio futuro não era mais nítida que a de Emma Morley. Queria ser bem-sucedido, que os pais se orgulhassem dele e que tivesse a oportunidade de dormir com mais de uma mulher ao mesmo tempo, mas como tornar todas essas coisas compatíveis? Queria ser citado em revistas e esperava um dia ver uma retrospectiva do seu trabalho, sem ter uma clara noção do que seria esse trabalho. Queria aproveitar a vida ao máximo, mas sem confusões nem complicações. Queria viver de forma que, se fosse fotografado casualmente, a foto saísse bonita. As coisas deveriam estar certas. Diversão; devia haver bastante diversão e pouca tristeza, não mais que o absolutamente necessário.

Não era um grande plano, e já tinha havido alguns tropeços. Esta noite, por exemplo, poderia ter repercussões: lágrimas, telefonemas desagradáveis e acusações. Talvez o melhor fosse ir embora o quanto antes.

Olhou para as roupas jogadas ao lado, preparando-se para uma fuga.

Foi alertado por um solavanco e o estampido de uma antiga descarga vindos do banheiro e logo recolocou o livro no lugar, encontrando embaixo da cama uma latinha amarela de mostarda Colman’s, que abriu e confirmou que, sim, continha camisinhas e pequenos restos acinzentados de um baseado que pareciam fezes de rato. Com a possibilidade de sexo e drogas que aquela pequena lata amarela continha ficou mais animado, e afinal decidiu que poderia ficar um pouco mais.

No banheiro, Emma Morley limpava manchas de pasta de dente nos cantos da boca e pensava se tudo aquilo não seria um grande equívoco.

Lá estava ela, depois de quatro anos vagando em um deserto romântico, finalmente, finalmente na cama com alguém de quem gostava, de quem gostara desde que o tinha visto pela primeira numa festa em 1984, e que em poucas horas estaria indo embora. Provavelmente para sempre. Era quase certo que não a convidaria para ir à China, sem falar que ela estava boicotando a China. E ele estava certo, não estava? Dexter Mayhew. Na verdade desconfiava que ele nem fosse assim tão brilhante, quem sabe até um pouco cheio de si, mas era popular. Engraçado e — não havia como negar — muito atraente. Então, por que estava sendo tão indeli cada e sarcástica? Por que não conseguia se mostrar divertida e autoconfiante como as garotas exuberantes e artificiais com quem ele costumava andar?

Viu a luz da manhã pela minúscula janela do banheiro. Sobriedade. Penteou o cabelo desgrenhado com a ponta dos dedos fazendo careta, depois puxou a corrente da antiga caixa de descarga e voltou para o quarto.

Na cama, Dexter viu quando ela apareceu na porta, vestindo a beca e o barrete que todos foram obrigados a alugar para a cerimônia de formatura, a perna enganchada no batente da porta de forma jocosa e sedutora, o canudo do diploma na mão. Emma espiou por cima dos óculos e cobriu um olho com o barrete.

— Que tal?

— Fica bem em você. Gostei da pose sedutora. Agora tire isso e volte para a cama.

— De jeito nenhum. Isso me custou trinta pratas. Esse dinheiro vai ter que valer alguma coisa. — Abriu a beca como se fosse uma capa de vampiro.

Dexter tentou segurar uma das pontas, mas ela desfechou um golpe com o diploma enrolado e sentou na beira da cama, dobrando as hastes dos óculos e tirando a beca. Ele deu uma última olhada nas costas nuas e na curva dos seios dela, e logo tudo desapareceu debaixo de uma camiseta preta, que exigia desarmamento nuclear unilateral já. “É isso aí”, pensou. “Nada melhor que uma longa camiseta preta com dizeres políticos para acabar com o desejo sexual, a não ser talvez um disco da Tracy Chapman.”

Resignado, pegou o diploma do chão, deslizou o elástico até o final do tubo e anunciou: “Inglês e história, com louvor, primeira classe.”

— Morra de inveja, garotão — tentando pegar o diploma. — Ei, cuidado com isso.

— Vai mandar enquadrar, é?

— Minha mãe e meu pai vão transformar isso em papel de parede.

— Enrolou o diploma bem apertado, ajeitando as extremidades. — Vão mandar fazer descansos de pratos. Minha mãe vai tatuar isso nas costas.

— Aliás, onde estão os seus pais?

— Ah, estão logo aí no quarto ao lado.

Ele vacilou.

— Como assim, é mesmo?

Ela gargalhou.

— Claro que não. Já voltaram para Leeds. Papai acha que hotel é coisa de bacana. — Escondeu o diploma embaixo da cama. — Chega para lá — falou, empurrando-o para o lado frio do colchão. Dexter deixou que ela se deitasse e procurou uma posição, passando um braço ao redor dos ombros da garota meio sem jeito e beijando seu pescoço de forma especulativa. Emma virou-se para ele, o queixo encolhido.

— Dex?

— Hum.

— Tudo bem se a gente só ficar abraçadinho?

— Claro. Se é isso o que você quer — respondeu, galante, embora na verdade nunca tivesse entendido muito bem o sentido daquilo. Dormir abraçado era para tias-avós e ursinhos de pelúcia. Dava cãibras. O melhor mesmo seria admitir logo a derrota e ir para casa o mais rápido possível, mas ela estava deitando a cabeça em seu ombro, ocupando território, e os dois ficaram assim por algum tempo, rígidos e pouco à vontade, antes de ela dizer:

— Nem acredito que eu falei “ficar abraçadinho”. Que coisa horrível...

Desculpe.

Ele sorriu.

— Tudo bem. Pelo menos não foi aconchegado.

— Aconchegado é bem ruim.

— Ou juntinhos.

— Juntinhos é terrível. Vamos prometer nunca ficar juntinhos — sugeriu ela, arrependendo-se imediatamente de ter falado aquilo. Os dois juntos? Parecia pouco provável. Ficaram em silêncio outra vez. Durante as últimas oito horas eles tinham conversado e se beijado, e agora sentiam aquela fadiga corporal profunda que chega junto com a alvorada. Melros cantavam no jardim dos fundos malcuidado.

— Adoro esse som — ele falou com a boca nos cabelos dela. — Melros ao amanhecer.

— Eu odeio. Dá a impressão de que vou me arrepender de ter feito alguma coisa.

— É por isso que eu adoro — observou Dex, mais uma vez buscando um efeito cínico e carismático. Logo depois acrescentou: — Mas por que isso?

— Por que o quê?

— Você vai se arrepender de ter feito alguma coisa?

— Você está falando disso? — Apertou a mão dele. — Ah, espero que sim. Ainda não sei. Pergunte isso de manhã. E você?

Ele pressionou a boca contra o topo da cabeça de Emma.
— Claro que não — respondeu e pensou: “Isso nunca, nunca mais pode acontecer.”

Satisfeita com a resposta, Emma chegou um pouco mais perto.

— A gente precisa dormir um pouco.

— Por quê? Não tem nada para fazer amanhã. Nenhum prazo, nenhum trabalho...

— Só o resto das nossas vidas se abrindo à nossa frente — comentou ela sonolenta, sentindo o cheiro dele, morno, fresco e maravilhoso, e ao mesmo tempo com um arrepio de ansiedade percorrendo seu corpo ao pensar no que estava por vir: uma vida adulta e independente. Mas ela não se sentia adulta. Não estava preparada, de jeito nenhum. Era como se um alarme de incêndio tivesse disparado de madrugada e ela se encontrasse no meio da rua com as roupas emboladas no braço. Se não tinha aprendido nada, o que iria fazer? Como preencheria os próximos dias? Não tinha a menor ideia.

“O negócio era ser corajosa e ousada e realizar alguma coisa”, pensou consigo mesma. Não exatamente mudar o mundo, só um pouco à sua volta. Sair por aí com o diploma com honras de primeiro lugar em duas matérias, muita paixão e a nova máquina de escrever elétrica Smith Corona e trabalhar duro em... alguma coisa. Mudar a vida das pessoas através da arte, talvez. Escrever coisas bonitas. Agradar aos amigos, continuar fiel aos próprios princípios, viver plenamente, bem e com paixão.

Experimentar coisas novas. Amar e ser amada, se possível. Comer com moderação. Coisas assim.

Não era exatamente uma linha filosófica, nem algo que pudesse ser compartilhado, menos ainda com aquele homem, mas era no que acreditava.

E até agora as primeiras poucas horas de vida adulta independente tinham sido razoáveis. Talvez de manhã, depois de um chá com aspirina, ela conseguisse até reunir coragem para chamá-lo de volta para a cama.

Eles estariam sóbrios então, o que não facilitaria muito as coisas, mas talvez fosse bom. Nas poucas vezes em que tinha ido para a cama com meninos ela sempre acabara gargalhando ou chorando, e seria bom tentar algo que não fosse nem uma coisa nem outra. Ficou imaginando se ainda tinha camisinhas na lata de mostarda. Não havia razão para não ter, pois estavam lá da última vez em que verificou: fevereiro de 1987.

Vince, um engenheiro químico cheio de pelos nas costas e que tinha assoado o nariz na fronha dela. Bons tempos aqueles, bons tempos...
Lá fora, começava a clarear. Dexter podia ver o tom rosado do novo dia filtrado pelas pesadas cortinas de inverno que vinham junto com aqueles quartos alugados. Tomando cuidado para não acordá-la, passou o braço por cima da garota, jogou a ponta de cigarro na caneca de vinho e olhou para o teto. Seria difícil dormir agora. Melhor desvendar o estampado da toalha cinza até ela estar completamente adormecida e então se esgueirar e sair em silêncio.

Claro que sair desse jeito significaria nunca mais voltar a ver Emma. Ele se perguntou se ela ficaria chateada e achou que sim: em geral elas achavam essas coisas importantes. Mas por que ele se importaria? Tinha passado muito bem sem ela durante quatro anos. Até a noite passada achava que seu nome era Anna, mas na festa não tinha conseguido desviar o olhar. Por que não a notara até então? Examinou o rosto adormecido ao seu lado.

Era bonita, mas parecia constrangida por isso. O cabelo tingido de ruivo era malcortado quase de propósito, talvez por ela mesma em frente ao espelho ou pela garota grandona e barulhenta com quem dividia o apartamento, Tilly sei lá o quê. A pele pálida e com acne indicava muito tempo passado em bibliotecas ou tomando cerveja em bares, e os óculos faziam com que parecesse uma coruja afetada. O queixo era suave e gorducho, embora talvez fosse só um pouco de papada (ou será que “gorducho” e “papada” eram coisas que não se podiam dizer naquele momento? Assim como não se podia dizer que tinha uns peitos incríveis, mesmo que fosse verdade, sem que ela ficasse toda ofendida).

Deixa para lá, vamos voltar ao rosto. Havia um pequeno quisto sebáceo na ponta do nariz pequeno e bem-feito e um borrifo de minúsculas manchas vermelhas na testa, mas fora isso era inegável que aquele rosto... bem, o rosto dela era uma maravilha. Os olhos estavam fechados e ele percebeu que não se lembrava bem da cor deles, apenas que eram grandes, brilhantes e irônicos, assim como os dois vincos nos cantos da boca rasgada, parênteses marcantes que se aprofundavam quando ela sorria, o que acontecia com frequência. Bochechas macias com sardas rosadas, almofadas de carne que pareciam quentes ao toque. Sem batom, os lábios cor de morango estavam sempre apertados, mesmo quando sorriam, como se ela não quisesse mostrar os dentes, um pouco grandes para a boca, os da frente meio lascados, tudo isso dando a impressão de estar sempre escondendo alguma coisa, uma risada, uma observação inteligente ou uma piada secreta fantástica.
Se fosse embora agora, provavelmente nunca mais veria aquele rosto, a não ser talvez em alguma terrível reunião dali a dez anos. Ela estaria mais gorda e se diria decepcionada, reclamaria por ele ter ido embora sem se despedir. Melhor sair em silêncio, e nada de reuniões comemorativas.

Seguir em frente, olhar para o futuro. Haveria muitos outros rostos bonitos à frente.

Mas, assim que tomou a decisão, a boca da moça se abriu num sorriso largo e ela falou, sem abrir os olhos:

— Então, qual é a sua conclusão, Dex?

— Sobre o quê, Em?

— Sobre eu e você. Você acha que é amor? — deu uma risada grave, os lábios bem apertados.

— Vê se dorme, tá?

— Então pare de olhar para o meu nariz. — Abriu os olhos, azul-esverdeados, brilhantes e astutos. — Que dia é amanhã? — resmungou.

— Você quer dizer hoje?

— Hoje. Esse dia novo e radiante que nos espera.

— É uma sexta. Sexta o dia inteiro. Aliás, é o Dia de São Swithin.*

— E o que isso quer dizer?

— É uma tradição. Se chover hoje, vai chover pelos próximos quarenta dias, ou durante todo o verão, algo assim.

Emma franziu o cenho.

— Isso não faz sentido.

— Nem é para fazer. É uma superstição.

— Vai chover onde? Sempre está chovendo em algum lugar.

— No túmulo de São Swithin. Ele está enterrado perto da catedral de Winchester.

— Como você sabe tudo isso?

— Eu estudei lá.

— Uau — ela falou baixinho no travesseiro.

— “Se chover no Dia de São Swithin / Por quarenta dias permanecerá assim.”

— Que belo poema.

— Bom, eu só estava parafraseando.
Ela riu mais uma vez, depois ergueu a cabeça, sonolenta.

— Escuta, Dex?

— Em?

— E se não chover hoje?

— Hu-hum.

— O que você vai fazer mais tarde?

“Diga que vai estar ocupado.”

— Nada especial — respondeu.

— Então vamos fazer alguma coisa? Quer dizer, nós dois?

“Espere ela dormir e saia de fininho.”

— Sim. Tudo bem — concordou. — Vamos fazer alguma coisa.

Emma deixou a cabeça cair no travesseiro outra vez.

— Um dia novinho em folha — murmurou.

— É, um dia novinho em folha.
* Segundo a tradição inglesa, as condições meteorológicas do dia 15 de julho, o Dia de São Swithin (o bispo de Winchester, clamado por duas doações para caridade e construção de igrejas), permanecerão por quarenta dias. (N. da E.)



sábado, 29 de dezembro de 2012

Um dia - David Nicholls



Oláaa!!!
Desde que eu vi o filme fiquei com uma vontade enorme de ler o livro e venho escrever o que achei dele. 

Dex e Em se conheceram no dia que se formaram. Ela sempre teve uma queda por ele antes disso, mas por ele ser sempre tão popular, fazer parte de outro grupo, eles eram distantes. 
Nesse mesmo dia eles tem a primeira noite juntos. Na manhã seguinte eles ainda continuaram juntos, pois os dois queriam aproveitar o máximo, já que sabiam que talvez não se veriam mais e seguiriam rumos diferentes.
Apesar disso, construíram uma forte laço de amizade, que mesmo com a distância os dois se falavam e até se viam constantemente.
O livro mostra sempre a vida deles no dia 15 de julho, o dia em que se conheceram, narra um pouco da  vida deles  e o que aconteceu nesse período. Durante os anos que foram narrados  notei que nenhum deles conseguia alcançar os objetivos e metas que queriam quando jovens. Emma sempre quis escrever livros, porém tinha arrumado um emprego que odiava em um restaurante e anos após consegue um emprego de professora, mas ainda sim não era o que queria. E Dexter sempre parecia sem rumo e sem perspectiva. Tinha um emprego na televisão, onde obteve sucesso, entretanto, após os anos se tornou um apresentador odiado, que tinhas várias matérias em jornais, porém todas negativa , em que questionavam se ele não era o pior da televisão...

Durante o sucesso e também a frustação, Dexter se tornou um alcoólatra. Sempre estava bêbado, com isso foi perdendo amigos, momentos de sua vida, Emma e o emprego. Nesse perído Emma se afastou dele, porque não suportava sempre o encontrar bêbado. É quando ela diz ''Dexter, eu te amo muito. Muito, muito, e provavelmente sempre amarei. que eu não gosto mais de você.” . 


Mesmo assim no futuro a vida deles se encontra novamente e os dois se tornam não só amigos, mas constroem um relacionamento sério. Esse novo momento da vida deles continua sendo narrado no mesmo dia 15 de julho... 

Bem, o livro não é como esperava, achei cansativo para ler e a forma como autor escreveu não me agradou muito. 

Porém pode servir de ensinamento, mostrando que muitas vezes fazemos vários planos na vida e que nem sempre vamos conquista-lós no momento em que esperávamos ou talvez nem os alcancemos. Além de relatar devemos aproveitar melhor a vida e não somente passar  por ela. Para mim eles não souberem aproveitar muito a vida na juventude.Dexter também perdeu muito na vida devido suas escolhas. 

 "Preciso falar com alguém. Alguém não. Você!"
 ''O que quer que aconteça amanhã, tivemos o hoje. A não ser se nos encontrarmos no futuro. Não terá problemas. Seremos amigos."


'' Não importa o que acontecerá amanhã, sempre lembrarei de hoje."

Para quem se interessou pela história pode dar uma olhadinha também no filme.  Trailer:



quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Metade - Oswaldo Montenegro

Olá!!
Hoje eu iria falar sobre o conto Orelhas com Limão, porém não achei  na net. 

Então de última hora, eu decidi postar aqui ''Metade '' de Oswaldo Montenegro.

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe

Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo

Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste

E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.
Oswaldo Montenegro

Video com esse poema:





segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Pelo ralo - Heloísa Seixas

Os pratos estão empilhados de um dos lados da pia numa torre irregular, equilibrando-se uns sobre os outros, como os destroços de um prédio bombardeado ameaçando cair. Estão sujos. Muito sujos. Foram deixados ali já faz algum tempo, e os pedaços de detritos sobre eles se cristalizaram, tomando formas absurdas, surreais. Há grãos e lascas, restos de folhas amontoados. Copos e tigelas, também empilhados num desenho caótico, exibem a superfície maculada, cheia de nódoas, e o metal das panelas, chamuscado e sujo, lembra a fuselagem de um avião incendiado. Mas há mais do que isso. Há talheres por toda parte, lâminas, cabos, extremidades pontiagudas que surgem por entre os pratos, em sugestões inquietantes. E há ainda a cratera da pia, onde outros tantos pratos e travessas, igualmente sujos, estão quase submersos numa água escura, como se, num campo de batalha, a chuva tivesse caído sobre as cinzas. O cenário é desolador.
A mulher se aproxima, os olhos fixos na pia. Suas mãos movem-se em torno da cintura e caminham até as costas, levando as tiras do avental. E a mulher abre a torneira. Encostada à pia, espera, tocando a água de vez em quando com a ponta dos dedos. (...) A mulher começa a lavar. Esfrega com vigor, começando pelas travessas que estavam imersas, pegando em seguida os copos e, por fim, os pratos. Vai acumulando-os, de um dos lados da pia, num trabalho longo, árduo. E só depois se põe a enxaguá-los, deixando que a água escoe, levando consigo o que resta dos detritos.
De repente, a mulher sorri. As pessoas não acreditam, mas ela gosta de lavar louça. Sempre gostou. A sensação de água nas mãos, seu jato carregando as impurezas, são para ela um bálsamo. “É bom assistir a essa passagem, à transformação do sujo em limpo”, ouviu dizer um dia um poeta. Ficara feliz ao ouvir aquilo. Só então se dera conta do quanto havia de beleza e poesia nesses gestos tão simples. Mas agora a mulher suspira. Queria poder também lavar os erros do mundo, desfazer seus escombros, apagar-lhe as nódoas, envolver em sabão todos os ódios e horrores, as misérias e mentiras. Porque, afinal, do jeito que as coisas andam, é o próprio mundo que vai acabar – ele inteiro – descendo pelo ralo.
(Heloísa Seixas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2001).
   

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Mania de comprar livros - Bibliomania

Olá pessoal!!!
Meu nome é Maria Helena e sou amiga da Leticia,recebi dela o convite de escrever um post para este blogger, com o tema a minha escolha, passei um tempo pensando e decidi falar sobre um coisa que muitos de vocês vão de identificar: A mania de comprar livros.

Por mais incrível que pareça existem pessoas que compram livros, mas sem a finalidade de os ler, somente para os ter mesmo esse hábito é chamado bibliomania. Já aqueles que gostam de comprar livros para desbruçar-se sobre a obra e devora-la tem um hábito chamado de bibliofilia, palavra proveniente do grego e que significa amor ao livro.


Pesquisando na internet sobre o assunto achei um pouquinho sobre o maior bibliófilo do Brasil:

Nascido em São Paulo, no dia 8 de setembro de 1914, José Ephim Mindlin formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo em 1936. Trabalhou como advogado em 1950, fase em que ajudou a fundar a empresa Metal Leve S/A.


Como empresário trabalhou incansavelmente por avanços tecnológicos e pela valorização de seus produtos no comércio internacional.  Sua relação com os livros iniciou aos 13 anos de idade, no decorrer dos anos, conciliou as suas atividades profissionais com a atividade de colecionador.
Em  parceria com amigos, fundou uma livraria de livros raros, após a falência do estabelecimento começou a recomprar todos os livros que havia vendido. Faleceu no dia 28 de fevereiro de 2010, aos 95 anos, por falência múltipla dos órgãos. Em 2006, já havia doado sua biblioteca particular, a maior do país com 45 mil volumes, para o campus da Usp.

Bem, pessoal, espero que vocês tenham gostado, caso quiserem saber algo mais sobre bibliomania e bibliofilia visitem esse site, foi lá que eu encontrei a história de José Ephim Mindlin e também fala mais sobre a diferença entre os hábitos citados à cima :


Essa sou eu, gente, a blogueira de hoje :





terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Quintanares


Quintanares

Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.

Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!

Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.

São cantigas sem esgares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.

São feitos esses cantares
De um tudo-nada: ao falares,
Luzem estrelas luares.

São para dizer em bares
Como em mansões seculares
Quintana, os teus quintanares.

Sim, em bares, onde os pares
Se beijam sem que repares
Que são casais exemplares.

E quer no pudor dos lares.
Quer no horror dos lupanares.
heiram sempre os teus cantares

Ao ar dos melhores ares,
Pois são simples, invulgares.
Quintana, os teus quintanares.

Por isso peço não pares,
Quintana, nos teus cantares...
Perdão! digo quintanares


(BANDEIRA, Manuel. In: Coletânea 80 anos de Poesia. Organizada por Tânia
Carvalhal. Editora Globo, 1986.)

domingo, 9 de dezembro de 2012

Brasileiro não gosta de ler?

Hello!! 

Gente, esse texto caiu na minha prova e na hora lembrei de postá-lo aqui. 
Espero que gostem  e pensem no que ele quer passar para os leitores. É da escritora Lya Luft!!! =D    

Brasileiro não gosta de ler?

A meninada precisa ser seduzida. Ler pode ser divertido
e interessante, pode entusiasmar, distrair e dar prazer.


Não é a primeira vez que falo nesse assunto, o da quantidade assustadora de analfabetos deste nosso Brasil. Não sei bem a cifra oficial, e não acredito muito em cifras oficiais. Primeiro, precisa ser esclarecida a questão do que é analfabetismo. E, para mim, alfabetizado não é quem assina o nome, talvez embaixo de um documento, mas quem assina um documento que conseguiu ler e... entender. A imensa maioria dos ditos meramente alfabetizados não está nessa lista, portanto são analfabetos – um dado melancólico para qualquer país civilizado. Nem sempre um povo leitor interessa a um governo (falo de algum país ficcional), pois quem lê é informado, e vai votar com relativa lucidez. Ler e escrever faz parte de ser gente.
Sempre fui de muito ler, não por virtude, mas porque em nossa casa livro era um objeto cotidiano, como o pão e o leite. Lembro de minhas avós de livro na mão quando não estavam lidando na casa. Minha cama de menina e mocinha era embutida em prateleiras. Criança insone, meu conforto nas noites intermináveis era acender o abajur, estender a mão, e ali estavam os meus amigos. Algumas vezes acordei minha mãe esquecendo a hora e dando risadas com a boneca Emília, de Monteiro Lobato, meu ídolo em criança: fazia mil artes e todo mundo achava graça.
E a escola não conseguiu estragar esse meu amor pelas histórias e pelas palavras. Digo isso com um pouco de ironia, mas sem nenhuma depreciação ao excelente colégio onde estudei, quando criança e adolescente, que muito me preparou para o mundo maior que eu conheceria saindo de minha cidadezinha aos 18 anos. Falo da impropriedade, que talvez exista até hoje (e que não era culpa das escolas, mas dos programas educacionais), de fazer adolescentes ler os clássicos brasileiros, os românticos, seja o que for, quando eles ainda nem têm o prazer da leitura. Qualquer menino ou menina se assusta ao ler Macedo, Alencar e outros: vai achar enfadonho, não vai entender, não vai se entusiasmar. Para mim esses programas cometem um pecado básico e fatal, afastando da leitura estudantes ainda imaturos.
Como ler é um hábito raro entre nós, e a meninada chega ao colégio achando livro uma coisa quase esquisita, e leitura uma chatice, talvez ela precise ser seduzida: percebendo que ler pode ser divertido, interessante, pode entusiasmar, distrair, dar prazer. Eu sugiro crônicas, pois temos grandes cronistas no Brasil, a começar por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, além dos vivos como Verissimo e outros tantos. Além disso, cada um deve descobrir o que gosta de ler, e vai gostar, talvez, pela vida afora. Não é preciso que todos amem os clássicos nem apreciem romance ou poesia. Há quem goste de ler sobre esportes, explorações, viagens, astronáutica ou astronomia, história, artes, computação, seja o que for.
O que é preciso é ler. Revista serve, jornal é ótimo, qualquer coisa que nos faça exercitar esse órgão tão esquecido: o cérebro. Lendo a gente aprende até sem sentir, cresce, fica mais poderoso e mais forte como indivíduo, mais integrado no mundo, mais curioso, mais ligado. Mas para isso é preciso, primeiro, alfabetizar-se, e não só lá pelo ensino médio, como ainda ocorre. Os primeiros anos são fundamentais não apenas por serem os primeiros, mas por construírem a base do que seremos, faremos e aprenderemos depois. Ali nasce a atitude em relação ao nosso lugar no mundo, escolhas pessoais e profissionais, pela vida afora. Por isso, esses primeiros anos, em que se aprende a ler e a escrever, deviam ser estimulantes, firmes, fortes e eficientes (não perversamente severos). Já se faz um grande trabalho de leitura em muitas escolas. Mas, naquelas em que com 9 ou 10 anos o aluno ainda não usa com naturalidade a língua materna, pouco se pode esperar. E não há como se queixar depois, com a eterna reclamação de que brasileiro não gosta de ler: essa porta nem lhe foi aberta.



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Lynda Waterhouse - Autora do livro Soul Love

Olá!!!
Essa semana comecei a ler Belle, o livro que comprei na biena, mas andei arrumando minha estante de livros e quando olhei pro Soul Love não resisti, senti uma voltante enorme de ler novamente. Então, parei Belle ( que aliás estou amando) e li Soul Love de novo.
De repente pensei em procurar outros livros da autora, já que amo o jeito que ela escreve, tão romântico, mas tão simples. 
Pesquisei aqui na internet e acabei descobrindo que aqui no Brasil só foi lançado o Soul Love..Que chato!! 
Mas resolvi postar aqui o pouco que achei sobre a vida dele, realmente ela não é muito conhecida aqui no Brasil.

Perfil da autora:
 
Nascida em Oldham, uma cidade perto de Manchester na Inglaterra, desde menina escreve histórias e poemas, diz que sonhar e tecer ideias faz parte de seu DNA. Lynda tem ideia para suas histórias a partir das outras pessoas. É curiosa e gulosa pelos seus comportamentos, sua cabeça está sempre cheia de ideias ou personagens.
Seus livros favoritos são Persuasão da Jane Austen, Tenant of Wildfell Hall da Anne Brontë, Drácula de Bram Stoker e a série Fronteiras do Universo do Philip Pullman, entre outros…

Três de seus livros mais antigos já não são mais comercializados, pois não receberam uma nova edição: Bonnie Fitch, More Bonnie Fitch e Just Like (infantil). Entre seus livros mais recentes estão: Fall Out e Cut Off, e a série infato-juvenil Sand Dancers.

Frases da autora:

 Estou cansada de viver como se já fosse uma pessoa adulta e madura. Gostaria de voltar a ser criança – uma garotinha de seis anos que caiu da bicicleta. Gostaria de fazer cara de choro e correr aos berros para a cozinha, onde minha mãe me ergueria do chão, me daria um forte abraço e beijaria meu joelho esfolado. Eu pararia de chorar e tomaria leite com chocolate para a dor passar.
Essa é uma das coisas que as pessoas não nos ensinam quando falam de crescer: como lidar com as dores que não passam com um beijo.
A astronomia realmente nos obriga a olhar para cima, à procura de um novo mundo. Amo o céu noturno. Olhar para o alto faz nosso espírito elevar-se também. Sempre me sinto mais cheia de esperanças quando olho para as estrelas.



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